Eu fui mãe com 21 anos. Juntando isso ao fato de ter sido criada pela minha avó, naquele ambiente doméstico até os 13, achar uma ponte entre me dedicar à maternidade ou investir na carreira foi dificílimo. Fui driblando o que deu. Quanto custa uma babá? Como a criança se sente ao ficar o dia todo na escola? Como me sinto ao conviver menos? Como lido com uma febre de longe?
Não encontrei nenhuma fórmula que seria capaz de patentear. Tive o privilégio de ficar o máximo que pude, embora isso tenha me custado momentaneamente abrir mão de uma construção profissional e de mais ganho financeiro, mas isso deixo para contar por aqui numa outra oportunidade. Seguindo esta linha, quando senti que já eram capazes de ficar em casa sozinhos, cuidando das próprias tarefas, comecei a passar mais tempo fora, só monitorando pelo celular.
Dentro de mim achei que já estivéssemos prontos para ir nos espaçando, dado que não precisava mais pedir para se agasalhar, esquentar o leite ou acompanhar a lição de casa. Mas, não estávamos. Na verdade, nunca estamos, é a vida quem vai nos obrigando porque não tem relação com ser capaz de realizar tarefas, mas de sentir que o exército tem um capitão. Tenho certeza que se sentem mais amados e, consequentemente, mais seguros quando estou ao alcance dos olhos.
Infelizmente fui a um velório por esses dias. Uma amiga muito querida perdeu seu pai. Ela é casada, mãe há mais de 20 anos, entre tantas outras funções que a vida adulta vem trazendo consigo. Mas, quando estava ao lado do caixão, ela era apenas filha. Era aquela mesma menina que precisava que alguém desse a mão para se levantar depois que caía ou que soprasse o machucado e dissesse que ia ficar tudo bem. Nós não estamos prontos. Na verdade, acho que nunca estaremos.
Quando o mundo nos enlouquece com tantas informações e tantos quereres, estar com a nossa base faz renascer em nós o pertencer. Penso como um renascimento mesmo. Sabe quando você sai do quarto com a luz apagada e vai tateando a parede até que seus olhos vão se adaptando a luz e possa enxergar? É isso, olhar para eles vai trazendo a memória de quem somos e tudo que fomos feitos até chegar aqui.
Comigo funciona demais! Vou contar um segredo. Acho que nunca revelei isso lá em casa. Eu adoro, de vez em quando, ir sozinha na casa dos meus pais. Só eu. Sem marido e sem a Gabi e o Neto. Isso faz com que eu me sinta filha e, pelo menos por aquele tempo, o mundo fica bem mais leve, eu repouso e confio porque tenho quem decida por mim e quem chegará antes que eu na necessidade de uma linha de combate.