sexta-feira, abril 18, 2025
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Os pedintes e O Caso do Mendigo, de Lima Barreto

Eu estava ali, naquele semáforo da Avenida Brasil, no Centro de Mogi Mirim, quando vi um moço pedindo dinheiro para os motoristas nos vidros dos automóveis. O caso ocorreu na sexta-feira, dia 25 de janeiro, pela manhã. Ele não me pediu, eu estava de moto e, geralmente, eles não vêm conversar quando estamos em duas rodas. Mas, fiquei pensando algumas coisas sobre aquela situação: quem seria aquele homem? Por qual motivo estaria ele, ali, pedindo dinheiro? Claro, eu sei que tem pessoas que usam a pausa do semáforo e outros locais para pedirem dinheiro com o objetivo de fazer uso de substâncias ilícitas e álcool. Mas, também acredito que muitas pessoas veem naquele espaço, e em outros, a forma de conseguir alguns trocados para sanar, nem que seja, alguma necessidade diária. Não podemos colocar todos “dentro do mesmo saco” e sairmos julgando da mesma forma, concordam?
Eu não vi, naquele homem, uma pessoa que estava ali em busca de dinheiro para uso de entorpecentes ou bebidas. Claro, também posso ter me enganado, até porque não ouvi suas palavras e muitos realmente gostam de enganar as pessoas. Vemos esses episódios diariamente, seja na cidade, na televisão, etc. Mas, o que vi foi que muitas pessoas não abriram nem o vidro do carro para ouvi-lo. Claro, há todo o contexto de medo que a sociedade vive. A gente não sabe com quem está lidando, quem é o sujeito que chega próximo a nós. E, por isso mesmo, até quem é bom, às vezes, acaba ficando sem qualquer oportunidade de diálogo.
Voltando ao caso do homem e das pessoas que estão pedindo nos semáforos, não sei das necessidades dele, mas posso dizer que, muitas pessoas, diante do desemprego em que vivemos, às vezes, veem o pedir como a última saída. Imagine só se você tivesse filhos, uma casinha com aluguel atrasado e nada para colocar na mesa. Você iria roubar, furtar ou preferiria pedir? Você deve estar pensando, eu iria trabalhar, em qualquer lugar que fosse. Eu concordo, mas, muitas vezes, até esse “qualquer lugar” pode estar difícil. São inúmeros fatores, há pessoas sem estudo, sem experiência, que são mais velhas e a sociedade não dá mais chances, com necessidades especiais, mães com filhos, aposentados, entre outras condições. Vocês sabem, o mercado exclui, sim, e tem muita gente fora do cenário por essas questões também. Mas, não irei me aprofundar sobre isso…
Bom, tudo isso ocorreu na sexta, dia 25, como informei, e acreditam que no domingo pela manhã, peguei um livro e achei uma crônica, chamada O Caso do Mendigo, que trata sobre a situação de pessoas que pedem. Achei interessante o texto e resolvi trazer um pouco dele para vocês, foi produzido pelo escritor e jornalista Lima Barreto (1881-1922), que trabalhava com temáticas sociais, especialmente. Quando li a crônica, a mesma estava dentro de um livro de obras do mesmo tipo. Mas, é possível ler O Caso do Mendigo na internet, um site em que achei é esse aqui: https://www.portalsaofrancisco.com.br/obras-literarias/o-caso-do-mendigo. Fala sobre um mendigo que angariou 6 contos e pouco e foi preso pela polícia. Trata sobre a indignação das pessoas em saber que ele havia acumulado tal valor, uma vez que se tratava de um mendigo! E, o autor, no contexto da obra, vai questionando justamente sobre quem seria aquele homem, que estava ali, naquela situação pedindo, e por qual motivo havia ficado cego.
Em determinado momento, Lima Barreto analisa “Quem seria esse cego antes de ser mendigo? Certamente um operário, um homem humilde, vivendo de pequenos vencimentos, tendo às vezes falta de trabalho; portanto, pelos seus hábitos anteriores de vida e mesmo pelos meios de que se servia para ganhá-la, estava habituado a economizar”. E, assim, o texto segue…
Todas as pessoas possuem seus históricos, o semear e suas colheitas. O que ocorre com a vida de cada um, não nos cabe julgar. Se podemos ajudar, tudo bem, se não podemos e não queremos, também não podemos sair colocando “todos dentro do mesmo saco”, apontando dedos e deduzindo os motivos de estarem nas situações mais adversas. Não é porque a pessoa está ali, na rua, pedindo, que ela vai usar o dinheiro para coisas ruins. Não sabemos de sua história. E, muitas vezes, não nos colocamos no lugar daquela pessoa. É a falta da empatia, gerada por vários motivos também, que nem me cabe julgar. Se a gente fica com medo de ouvir e de abrir o vidro do carro é porque a sociedade não está fácil. E assim seguimos o ciclo de cada um por si. Triste.

Nessa semana, conforme dito na primeira edição em que publiquei uma ilustração, que foi na coluna do dia 4 de janeiro, escolhi uma foto! A imagem se trata da obra que estava lendo e que mencionei durante o texto, sendo um livro de crônicas do Lima Barreto. Trago essa imagem para você, que ainda não a conhece, saber sobre ela e também para tratar da importância de se inspirar para produzir e criar. Tudo é inspiração. E, você, em que se inspira? O que gosta de ler? E de apreciar? Bom final de semana, gente!

Ludmila Fontoura

jornalista formada pela Pontifícia Universidade Católica de Campinas, a PUC-Campinas, além de Historiadora e pós-graduada em História Social pelas Faculdades Integradas Maria Imaculada de Mogi Guaçu, as Fimi.

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