Essa semana sentimos bastante calor, não é mesmo? E logo começamos a ouvir as falas: “nossa, que calor! Nossa, gostava mais do frio! Nossa, odeio suor!”, e por aí vai. Eu também falei sobre isso nesta semana, confesso com a maior cara de pau. Mas aí que fiquei pensando em um poema da Cecília Meireles, chamado Ou isto, Ou Aquilo. Vocês conhecem?
Vamos a ele. No poema, Meireles fala, entre suas diversas frases: “Ou se tem chuva e não se tem sol, ou se tem sol e não se tem chuva! Ou se calça a luva e não se põe o anel, ou se põe o anel e não se calça a luva! Quem sobe nos ares não fica no chão, quem fica no chão não sobe nos ares (…)”. Ou seja, ligando ao nosso assunto, não há como ter tudo ao mesmo tempo. Mas bem que poderia ter um meio termo em tudo, não é mesmo? Esta história de Ou isto, Ou Aquilo é bem radical para meu gosto. Determina nossos dias, nossa vida, porque vivemos tendo que fazer as escolhas que nem sempre são aquelas que realmente queremos.
Veja alguns exemplos bem ilustrativos e bobos: poderíamos viver em um mundo que fosse sempre fresquinho, poderíamos trabalhar somente meio período, ter férias mais vezes ao ano, engordar só metade das calorias do dia, precisar dormir só quatro horas por noite, poder comprar roupas sempre pela metade do preço que costumamos pagar, precisar malhar só duas vezes na semana, poder descansar sempre durante as tardes, etc.
O fato é que como tudo é tão radical em nosso dia a dia, sendo Ou Isto, Ou Aquilo sempre, mal sobra tempo para fazermos as coisas que realmente gostamos. Por que geralmente Isto ou Aquilo está diretamente relacionado em nosso mundo capitalista com o se formar, trabalhar, ganhar dinheiro e sobreviver. Então, para nós, que seguimos essa forma de vida, Isto e Aquilo sempre serão pautadas nas quatro ações citadas.
Aquilo (veja bem: aquilo que realmente você gosta de fazer) talvez seja deixado só para o final de sua vida, se você ainda tiver fôlego. Que realidade! Para finalizar: “É uma grande pena que não se possa estar ao mesmo tempo nos dois lugares! Ou guardo o dinheiro e não compro o doce, ou compro o doce e gasto o dinheiro. Ou isto ou aquilo: ou isto ou aquilo…e vivo escolhendo o dia inteiro!”. E a vida toda vamos escolhendo.
Ludmila Fontoura é jornalista formada pela Pontifícia Universidade Católica de Campinas, a Puc-Campinas, além de Historiadora e pós-graduada em História Social pelas Faculdades Integradas Maria Imaculada de Mogi Guaçu, as Fimi.