sexta-feira, novembro 22, 2024
INICIALOpiniãoArtigos“... ou malufemos todos”.

“… ou malufemos todos”.

Sérgio Porto, que se assinava Stanislaw Ponte Preta em coluna no jornal Última Hora, foi um dos mais brilhantes e divertidos colunistas do Brasil. Entre umas e outras genialidades, cunhou uma frase para a história: “Ou restaure-se a moralidade ou locupletemo-nos todos”.

Isso deve ter sido por volta da década de 1950, avançando pelos anos de 1960. A frase era atual já então. A roubalheira corria solta. De lá para cá nada mudou. Ou melhor, mudou sim, mas para pior, porque a corrupção se tornou mais aguda, mais voraz, mais destruidora.

Os fatos dos últimos dias me levam a propor, mesmo com grave ofensa à memória de Stanislaw, uma adaptação à sua exortação: “Ou restaure-se a moralidade ou malufemo-nos todos”.

Porque se Paulo Maluf é ficha limpa, como decretou o augusto Tribunal Superior Eleitoral, quem haverá de ser ficha suja? Ou, se Maluf pode, porque não podemos nós, não é mesmo? Para quem não esteja entendendo, o TSE validou a candidatura, e consequentemente o mandato, do ex-governador paulista, mesmo sendo sabido da manipulação de dinheiro público em proveito próprio, na execução de obras como prefeito de São Paulo.

Quero crer que suas excelências descobriram um fato até então ignorado: aqueles 250 milhões de dólares homiziados na Suíça saíram inadvertidamente dos cofres da prefeitura paulistana, tomaram a direção do Aeroporto de Guarulhos, alojaram-se sorrateiramente em um Boeing e foram parar em Berna.

O fato era do mais absoluto desconhecimento de Maluf que, em tais circunstâncias, não poderia sofrer a inquinação de ter-se apropriado daquela pequena bolada. Pequena para eles, pois eu me daria bem com algo infinitamente a inferior a 1% dela.

O governo da Suíça, ou os bancos de lá, um deles resolveu mandar de volta ao Brasil parte das centenas de milhares de verdinhas que voaram para lá. E o que Maluf tem com isso? Nada. É um político limpinho, incapaz de apropriar-se do doce de uma criança, se não for com a anuência dela.

Aliás, alguém com essa retidão e uma folha monstruosa de serviços prestados à pátria e aos cidadãos, talvez vá merecer, mais tarde, uma canonização. O Tribunal Superior Eleitoral já fez sua parte, ungiu Maluf, revestindo-o de doçura, de suavidade.

Eu não acredito em E.Ts, mas há quem diga eles de vez em quando nos visitam. Do mesmo modo, não acredito que um togado decida por razões que não sejam suas sinceras convicções e sustentado em algo que não seja o rigor do direito. Mas, como dizem que existem E.Ts…vai que, né?

Meu neto Luciano está fazendo seis anos. Não sei o quanto de tempo terei para contribuir com sua formação, para conviver com ele, considerando o oceânico lapso etário entre nós.

Sei de uma coisa: vou ter muita dificuldade se for surpreendido por ele, uma hora dessas, um dia qualquer, com uma pergunta acerca de quem é, foi ou terá sido Paulo Maluf. Acho melhor fazer como aquele candidato em exame oral que, ignorante do personagem acerca de quem devia falar, ligou-a a outro e sobre este discorreu caudalosamente. Direi que Maluf se assemelhou a Fernandinho Beira-Mar…

Preciso explicar?

Valter Abrucez é jornalista autodidata. Ocupa, atualmente, o cargo de Secretário de Comunicação Social na Prefeitura de Mogi Guaçu e escreve aos sábados em O POPULAR.

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