Poderia ser apenas mais um ouro para a coleção do jovem Fábio Guerreiro, o Fabinho, preparador físico da seleção brasileira de futebol feminino. Mas a medalha nos Jogos Pan-Americanos de Toronto, no Canadá, em julho, envolveu um ingrediente especial. Desta vez, o mogimiriano disputou uma competição inserida em um evento com uma série de esportes, no perfil das Olimpíadas, servindo como uma prévia do que será vivido nos Jogos Olímpicos do Rio 2016. “É uma experiência única, emocionante. Falam que é uma mini Olimpíada”, comparou.
Embora Fabinho tenha conhecido a atmosfera da Vila Olímpica, a seleção ficou concentrada em uma subsede, em Hamilton. Isso porque, como cada seleção tem mais de 30 componentes, todas as seleções de futebol masculino e feminino ficam em um local exclusivo.
Porém, a oportunidade de vivenciar a Vila Olímpica foi especial. “A atmosfera é totalmente diferente de qualquer campeonato. Você lida com culturas e esportes diferentes tanto individuais quanto coletivos”, valorizou.
A vivência no Pan-Americano proporcionou uma bagagem para as Olimpíadas. “Vai ser uma responsabilidade um pouco maior, como vai ser no Brasil, temos que trabalhar para representar bem e tentar buscar o tão sonhado ouro olímpico, que é muito difícil”, comentou.
Na Vila Olímpica, Fabinho encontrou as irmãs do nado sincronizado Bia e Branca Feres, com quem já havia feito amizade, conheceu Roberto Scheidt e as meninas da ginástica. “É um ambiente totalmente diferente, todo mundo comendo e dormindo no mesmo lugar”, destacou.
Fabinho não conseguiu assistir muitos jogos em função dos treinos. “Queria muito assistir vôlei e atletismo, mas não consegui”, explicou.
Já na subsede, como todos os integrantes do futebol estavam juntos, houve um intercâmbio, com a oportunidade de fazer amizade com profissionais da comissão técnica de outros países. Como aconteceu em outras viagens, Fabinho em alguns momentos serviu para algumas atletas e membros da comissão técnica como uma espécie de intérprete, em função do domínio do inglês. A facilidade existe pela experiência nos tempos de atleta do futebol universitário estadunidense.
Carinho ajudou em superação depois de decepção na Copa
Antes de conquistar o Pan-Americano, a seleção viveu uma decepção na Copa do Mundo com a eliminação nas oitavas de final, mesmo jogando melhor que a Austrália. Na primeira fase, a seleção havia vencido a Coreia, Espanha e Costa Rica. “Foi um acidente de percurso. Um momento muito triste, de dever não cumprido, mas não pelo trabalho. Tivemos três oportunidades de matar o jogo e não matamos. A Austrália fez o gol e acabou com nosso sonho”, relembra. “Você olhava para um lado via a Marta, a Formiga chorando”, recordou.
Para a eliminação não influenciar negativamente no trabalho, Fabinho ressalta a importância do coordenador Marco Aurélio Cunha. Na programação, estava previsto seguir aos Estados Unidos após a Copa para mais duas semanas de treinos antes do Pan-Americano. Mas Marco mudou os planos e definiu a volta ao Brasil para uma semana de folga antes de ir ao Canadá. “Sentimos que as atletas precisavam de colo, da energia positiva da família”, explicou, lembrando que Vadão também foi fundamental no aspecto motivacional.
Dessa forma, foi tirado o foco do Mundial e focado no Pan em que a seleção era a favorita. O ouro no Pan-Americano serviu para restabelecer a confiança no trabalho. Com a ausência de Marta, Formiga foi a principal líder e viveu seu último Pan-Americano, pois deve se aposentar após as Olimpíadas. “Foi marcante fazer parte desse momento da Formiga, uma atleta que o Brasil não dá o valor que deveria como esses grandes atletas que a gente dá. Se todos dessem valor ao que ela representa, ela teria uma importância muito maior no Brasil inteiro”, analisou.
Fabinho Guerreiro nunca perdeu uma final na carreira
A carreira de Fábio Guerreiro contabiliza quatro ouros: o título de campeão paulista pelo Ituano, a conquista da Copa América, a vitória do Torneio de Brasília e o ouro no Pan-Americano. O preparador físico nunca perdeu uma final, mas entende que, além do ouro como objetivo final, está o valor de chegar a uma decisão. Nesse sentido, frisa que a responsabilidade do Brasil nas Olimpíadas aumenta por ser no Brasil e em função do perfil dos brasileiros. “O brasileiro é muito exigente, a prata e o bronze, que são conquistas de peso, não têm a importância que deveriam ter. Lá fora a prata e o bronze são valorizados”, comparou.
Questionado se sente ser um iluminado por nunca ter perdido uma final, prefere afastar o rótulo. “Não posso dizer iluminado, é trabalho e, com certeza, tem o dedo de Deus. Mas a gente tem que estar preparado pra tudo, talvez chegue na final de um campeonato e não ganhe o ouro”, ponderou.