Não há como não entrar no debate da ainda provável realização da Copa América no Brasil. Uma terceira onda da pandemia já é fato consumado. Há duas semanas o ritmo de mortes e internações cresce sem parar. Principalmente no estado de São Paulo e também da nossa microrregião.
Está mais do que claro que um novo movimento de contração nas atividades da população terá que ser feito, infelizmente. Resta apenas saber quando e como isso vai se dar. Mais um duro golpe com gosto de remédio amargo na já desassistida massa de brasileiros que não sabe muito bem para onde correr. Em Mogi Mirim, vamos nos aproximando da triste marca de 300 mortos e famílias enlutadas.
Quando nenhum país da América do Sul se mostra disposto a sediar o torneio continental de seleções, surge o Brasil como opção. Como se vivêssemos um cenário completamente distinto e de calmaria. E aqui gostaria de tocar em um ponto que provavelmente é o principal argumento de quem não vê problemas na realização da competição. O fato de que inúmeros outros torneios já estejam sendo disputados no país. Grosseiramente falando, temos o famoso “se todo mundo está fazendo errado porque não posso fazer também”?
Aqui nós temos essa mania. A falha do outro é a oportunidade para que a minha falha não seja criticada. Ao invés de tomarmos isso como um motivo de alerta para correção de rota, optamos por dar mais um passo na direção do precipício. É hora, sim, de voltarmos a discutir a continuidade das competições nacionais, ainda que legalmente elas possam se firmar em liberações e restrições estaduais e locais. Algumas afirmações, que antes eram vistas como inquestionáveis, estão caindo por terra na pandemia. Entre elas a de que idosos seriam vulneráveis, mas adultos raramente morreriam.
Vamos esperar outra afirmação cair para que isso aconteça? A ideia de que esportistas tem corpos saudáveis e por isso estariam praticamente imunes a casos graves da doença, de alguma maneira ainda persiste. Embora já tenhamos tido um caso aqui e outro acolá em que essa tese pode ser questionada.
E eu nem estou falando especificamente da possibilidade de aparecerem novas variantes que consigam escapar das vacinas que temos disponíveis no momento. Mas, sim, da intensa rotina de viagens, deslocamentos diversos que o esporte profissional exige e o potencial de transmissão que isso tem, por mais que protocolos sejam respeitados.
Só para não deixar passar despercebido, dou também o meu pitaco sobre o manifesto feito pelos jogadores da Seleção, indicando desaprovação do torneio, mas garantindo estarem prontos para a disputa. Vi mais por parte da imprensa que do público uma decepção geral. Não me incluo nesse barco, pois, não imaginei, em nenhum momento, que o boicote pudesse acontecer. O que houve por parte de alguns foi um sonho vazio de humanização e politização.