Acredite se quiser, eu ainda levanto mais cedo para acordá-los para a escola, faço leite e preparo o lanche que vão comer no intervalo, para não infantilizar dizendo recreio. Isso não tem sido consenso lá em casa. Embora seja extremamente afetuoso, muito mais que eu, Alisson pensa que já está na hora deles se virarem. Eu não consigo.
Meu coração se alegra de imaginar que, quando estiverem sentados naquela cadeira da sala de aula, vai existir conforto. Naquele momento que um neurônio não reconhecer a fórmula de química orgânica e se desesperar, outro vai lembrar da mesa posta, do pão com queijo quentinho e o mundo ficará um lugar melhor.
Funciona comigo até hoje. Tenho uma garrafa com água benta que uso sempre que sinto que preciso de ajuda. Ganhei ela do meu padrasto e não tem oração mais valiosa do que a de quem existe por você. Nem por isso eu deixo de fazer a parte que me cabe, mas na confiança, na segurança de que, naquela água, tem um exército a meu favor.
Na semana passada falei sobre ser uma pessoa ansiosa e que tem pressa, mas felizmente já absorvi alguns aprendizados pelo caminho e percebi que existem ciclos que naturalmente se encerram. Sendo assim, analisando o contexto, porque não deixá-los ao acaso?
Como já dito aqui, a Gabi está prestando vestibular. Tenho certeza que assim que ela sair por aquela porta, nunca mais a teremos na convivência diária. E falta pouco, muito pouco. Com o Neto penso que será um pouco diferente, mas é puro achismo. A verdade é que, num futuro bem próximo, espontaneamente, não haverá mais esta demanda.
Gabi e Neto nasceram chupando o dedo. Era tanta pressão! Cada dia alguém dava um conselho para que deixassem esse hábito de lado e eu comprava todos: base com gosto ruim, aparelho no céu da boca e chantagem. Agi assim até o dia que resolvi respirar e observar o que fazia sentido para mim. Decidi então que ficariam com eles (eram dois ainda para ajudar) na boca até quando quisessem e que quando essa hora chegasse, decidiria o que fazer com os prejuízos causados. Foi tão mais leve.
Por tudo isso que, hoje, deixo que levantem em cima do tempo para a escola. Enquanto vão tomar banho, preparo o café da manhã e o lanche. Não acho que estou estragando porque já tive inúmeras experiências de que são absolutamente capazes de, quando sozinhos, resolverem suas necessidades quando precisam. São pontuais e bem desenvolvidos. É o que vale!
Dá sim para construir um ser humano baseado no amor, ele também é capaz de ser combustível para boas escolhas. Além disso, é tão bom viver ao lado de gente amorosa e esse processo é contínuo: quem é cuidado, cuida.