Não é novidade para ninguém dizer que o nosso país não dispõe sequer do esboço de uma política esportiva. As conquistas em esportes individuais e até coletivos dependem muito mais do esforço e talento do atleta do que de um processo estruturado que deixe o caminho aberto para que os melhores se destaquem, como acontece na Europa e nos Estados Unidos, principalmente. Quando falamos de esportes de neve, aqueles que têm seu ápice nas Olimpíadas de Inverno e em campeonatos mundiais, cujas sedes não passam nem perto da América Latina, a dificuldade fica difícil até de se medir.
Esse primeiro parágrafo tem por objetivo te ajudar a dimensionar um pouco mais o tamanho da trajetória de Mirlene Picin e dos feitos que ela vem acumulando em mais de uma década competindo no alto rendimento e com destaque. Desde 2008, pelo menos, ela roda o mundo colecionando troféus, medalhas e participações nas disputas mais importantes. Esbanjando versatilidade, ela encara provas com distâncias e exigências bem diferentes com a mesma desenvoltura. Do contrário, não seria possível ostentar o recorde de ser a brasileira com o maior número de medalhas conquistadas em campeonatos sulamericanos entre todas as modalidades olímpicas.
No final de fevereiro, Mirlene participou do seu sexto Mundial de Ski Nórdico, na Alemanha (veja na reportagem abaixo). Se você conhece alguém que pratica esporte com profissionalismo e seriedade, eu te faço um convite. Quando tiver oportunidade, pergunte a esta pessoa o que significa disputar uma competição com os melhores do mundo. Sou capaz de apostar com o leitor que o esportista em questão, se já tiver tido essa oportunidade, vai se referir a ela como um dos momentos mais especiais da sua vida. Se ainda não for o caso, certamente vai falar de um grande sonho a realizar. Mirlene não consegue contar nos dedos da mão.
Aqueles que não são tão ligados assim ao esporte, possivelmente sequer teriam tido a oportunidade de ter contato com modalidades como o biatlo, por exemplo. Mas, se você abre as páginas de O POPULAR e de outros meios de comunicação da região, quando ouve ou lê o nome de Mirlene Picin, já sabe que se trata de alguém que construiu com muita luta e empenho um caminho de incontestável sucesso na carreira.
Os chatos de plantão (ah, e como eles existem!) vão perguntar: Mas ela não ganhou medalha no Mundial? A essa minoria, que talvez não merecesse sequer ser mencionada nessa coluna, eu sugiro uma rápida pesquisa para que conheçam os difíceis passos que precisam ser dados nas etapas de classificação. Os investimentos financeiros, as privações a que o atleta precisa se submeter, as horas diárias de treino e o envolvimento de quantas pessoas é necessário para construir uma trajetória de muito respeito. E a nossa Mika construiu!