sábado, junho 7, 2025
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Parto… prematuro

Existe um curso para quem está grávida aprender sobre os cuidados com o bebê. Nele capacita-se como dar banho, a maneira certa de amamentar, como enrolar no cobertor para que se sinta seguro e uma infinidade de outras coisas. Uma espécie de teste drive antes da “hora H”.

É uma boia, um alívio para quem é marinheira de primeira viagem. Seria a solução para todos os problemas se a vida, essa danada, não seguisse dinâmica, nos obrigando a parir rotineiramente e por vezes prematuramente. A primeira vez que saímos sem o bebê, a última amamentada, quando ele começa a ir para a escola, a primeira festa de aniversário sem a nossa companhia entre tantos outros rompimentos.

Quantas vezes durante os nossos dias ficamos diante de decisões e atitudes que assustam tanto quanto quando a bolsa estourou? Quantos monstros visitam nossa existência nas noites que ficamos em claro com medo do que o próximo passo nos reserva, assim como chegar com um bebê recém-nascido em casa?
Somos todos novatos o tempo todo. Isso porque a existência do primeiro filho ajuda com as experiências, mas não resolve. As necessidades individuais da criança são outras e nós somos outros. Por isso, seria encantador se houvesse um extensivo ensinando pelo menos o básico de como devemos nos sentir, não só como agir, para nos preparar para cada mudança de fase na vida.

Fico até pensando nos possíveis temas. Tirou carta? Vem aqui que vou te mostrar como se comportar enquanto ele dirige com o mínimo de experiência! Precisa viajar de ônibus sozinho? Calma, respira desta forma que o seu desassossego passa! Pediu para viajar com o namorado? O diálogo basta, sente e tenha uma conversa franca e ela fará só o que você disser!

Confesso que por vezes sinto saudades de quando meu maior medo era que eles afogassem após mamar. Bastava colocar de lado e ficar atento, prestando atenção nos sons e dando uma “olhadinha” de vez em quando. Hoje eles estão bem longe do alcance das minhas mãos.

Vejam bem, a Gabi nunca usou circular aqui, andava pouco a pé e era proibida de entrar num Uber à noite sozinha. Agora estuda na Capital, uma das cidades mais violentas do estado. Lá usa metrô e ônibus diariamente e chega a pé até eles. Quando tem vida social à noite, depende exclusivamente de motorista de aplicativo e quando vem nos ver é de carona.

E como eu lido com isso? Não lido, aceito! A primeira vez que ela foi numa viagem sozinha tinha menos de dois anos. Foi uma excursão da escola para um mini zoológico em Holambra, de van, tendo acesso por estrada. Analisei todos os riscos que, claramente, ficam gigantes quando temos medo. A conclusão que cheguei e a que uso ainda hoje: é impossível mantê-la para sempre ao meu lado e, ainda que o faça, isso não garante que esteja livre de riscos. Quantas tragédias com família andando na calçada já ouvimos?

Sendo assim, na maior parte do tempo escolho a vida. Em algumas não consigo e quando fico inerte tem muito mais a ver comigo do que com eles, sou eu quem não estou pronta e não há experiência que me salve.

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