Estamos na fase do vestibular. Dia desses fui deixar a Gabi numa escola para fazer a prova da Unicamp e me peguei chorando. Sim, ser mãe é viver com as emoções sempre à flor da pele. E também sim, embora emocionalmente cansativo, não há outro lugar para se viver experiências tão profundas e transformadoras.
Chorei ao ver o filme da minha vida diante dos olhos. A maternidade me levou para tantos lugares. Por conta dela vivi coisas inimagináveis, conheci pessoas maravilhosas, fui a lugares onde não teria chegado se não fosse pelos meus filhos. Ah, saí tanto de mim!
E isso começa no básico. Naquela decisão de tirar o pijama e enfrentar um domingo frio e chuvoso fora de casa. Na coragem de sair de madrugada no vazio e na escuridão para buscar por aí.
O que de fato emociona e preenche o coração são as experiências. A primeira vez que deixei a Gabi, primeira filha, sozinha na escola, fiquei igual barata tonta. Não sabia o que fazer com o tempo e achava que ninguém seria capaz de reconhecer as preferências dela. Sobrevivemos.
A primeira festa que teve à noite coincidiu com uma viagem marcada com antecedência, que eu não fui. Poderia ter combinado com a mãe de uma amiga, mas quis viver de perto aquilo: levei no cabeleireiro – porque dias especiais merecem – e fui até a porta deixá-la só pelo prazer de vê-la com asas cada vez maiores. E também estava ali quando voltou para casa depois de ter explorado um mundo novo.
Dia desses passei a tarde de sábado sentada numa pedra, no meio de um matagal, porque o Neto descobriu que gosta de fazer manobras de bicicleta e queria que fossemos ver. E fazemos isso pelo simples prazer de estar junto.
Sem falar que passo a maior vergonha toda vez que tem celebração no colégio. Choro do começo ao fim por ver que estão cercados de pessoas que despertam neles a liberdade de viver. Tudo aquilo remonta para mim o privilégio em ter saúde, comida na mesa, uniforme limpinho e base para fazer boas escolhas.
Eu já fui tantas! Não vou conseguir definir em palavras, mas assemelho tudo isso à descrição do amor ágape: o amor que se doa, o amor incondicional, o amor que se entrega. E o mais fascinante desta matemática é que cada vez que faço por eles, estou fazendo muito mais por mim. Não sou apenas eu que os levo a lugares, são mais eles que me levam para dentro de mim.