Chega a ser cômica a forma como alguns políticos abraçam as oportunidades de inscreverem seus nomes na memória dos eleitores, confiantes em que vale mais uma boa conversa que muito trabalho e seriedade. Partindo do pressuposto da ignorância popular e da falta de memória, os políticos lançam-se em atitudes meramente eleitoreiras, esperando conquistar simpatia e alguns votos.
A cena protagonizada na sessão de segunda-feira da Câmara de vereadores de Mogi Mirim, entre Cinoê Duzo (PSD) e Márcia Rottoli (SDD), foi de total constrangimento. Ao usar a tribuna, o vereador elevou o tom do discurso de forma histriônica para reclamar que o gerente de Esportes Dirceu Paulino tinha se apossado de uma ideia “sua” para anunciar evento que acontece no Zerão. Em manifestação que se podia ouvir na Praça Rui Barbosa, a vereadora do Solidariedade desqualificou seu colega, em desnecessária, estridente e irrelevante polêmica.
Cinoê chegou a se referir ao Lavapés como o “seu Zerão”. Depois de toda confusão, alertado que seu nome foi, na verdade, citado pelo gerente de Esportes, o vereador se desmanchou em desculpas através das redes sociais. Desculpou-se da acusação equivocada, mas não da forma destrambelhada como se comportou, e, modo persistente, botou a culpa na imprensa.
Tudo é uma mentira. Um projeto de reunir várias atividades esportivas e de lazer em um único lugar não é sequer original. Isso foi feito em todas as administrações passadas, há décadas, com os mais diversos nomes, mas que encerram o mesmo propósito. Assumir paternidade de algo que acontece em todo lugar é, no mínimo, má-fé. E é preciso também que alguém sussurre ao ouvido do vereador Cinoê que o Zerão, assim como todo espaço público de Mogi Mirim, se tem um dono, este é o povo. Não é regando jardim e plantando mudinhas que se toma posse de um lugar, ou se outorga qualquer direito sobre ele.
No cerne da questão está o péssimo hábito arraigado entre políticos de esquina. Apresentam a cada sessão inúmeros requerimentos e indicações, com o único intuito de, realizada a obra ou feito o serviço, saírem às ruas arrogando-se a responsabilidade do trabalho. Gesto eleitoreiro, que se presta apenas a alimentar o ciclo vicioso da desqualificação dos poderes da República e a anemia política da população.