Passamos pelo 7 de Setembro. Data que simboliza a desconexão político-administrativa do Brasil com Portugal, mas que nos lembra que, mesmo quando nos tornamos independentes, nos mantivemos súditos do mesmo grilhão que nos forjava, com o trono apenas passando de pai para filho.
Esta relação de subserviência é constrangedoramente mantida mesmo às portas dos 200 anos da “não ida” de Dom Pedro I às margens do Rio Ipiranga. Sim, aquela cena, eternizada em quadro, é teatral. Não foi daquele jeito. Mas a imagem que fica é a gravada. É a repetida. É assim que os governantes se mantêm no poder.
No último feriado, testemunhamos manifestações em todo o país. Uma parcela, favorável ao presidente. A outra, contrária a ele. Felizmente, o clima cada vez mais belicoso não culminou no pior cenário possível: mortes. O que, por óbvio, não nos faz lamentar que estejamos entregues a uma liderança nacional que não desiste do confronto.
O presidente da República insiste em incitar seus apoiadores a se armar. E não parece mais usar o véu da defesa contra criminosos, em defesa do patrimônio, em casos de roubo. O projeto fica cada vez mais evidente. “Com flores não se ganha a guerra. Se você fala em armamento… Quem quer paz, se prepare para a guerra”.
É interessante ouvir de alguém que diz que Deus está acima de todos que, para se chegar na paz, é necessário estar pronto para a guerra. Jesus Cristo, se estivesse por aqui, neste insano 2021, seria apedrejado e crucificado pelo Messias. Pelo culto à morte com a desculpa de auto-defesa. E o discurso bélico prossegue: “Tem que todo mundo comprar fuzil, pô. Povo armado jamais será escravizado. Eu sei que custa caro. Tem um idiota: ‘Ah, tem que comprar é feijão’. Cara, se não quer comprar fuzil, não enche o saco de quem quer comprar”. Mais palavras do presidente.
Sempre reiteramos que é natural concordar com Bolsonaro. Votar nele, optar por ele, confiar nele. O que não dá é se desgrudar do que ele prega. Apoiar este discurso de guerra é ir contra os ideais de qualquer religião e é assustadora a capacidade desta liderança conduzir seus apoiadores ao ódio mesmo vestido de proclamador da fé. Jesus não multiplicou espadas no deserto. Foi peixe e pão. Foi comida. E o povo quer comer. Precisa comer.
O projeto de caos está lançado. O país atolado em uma crise econômica que leva irmãos e irmãs a uma miséria que parecia resolvida após anos e anos de investimento social e idiota é quem quer comprar feijão. Não dá para caminhar para a paz sem coesão, sem agregamento. Instigar pares ao confronto é um gesto que agrada ao sete-pele.
Que, por óbvio, também deve amar aquele que lidera esquema de peculato e, ainda assim, é adorado por quem se mantém certo de que ali está um poço de honestidade. Coisa ruim gargalha! E bem que o recuo de ontem poderia ser o padrão. Ame mais, presidente. Governo para todos, para os que têm o direito de concordar com você e para os que têm o direito de discordar.