De volta ao Boteco, o ex-atacante da Tucurense, Paulinho Gasparini, recorda a contusão sofrida em jogo do Campeonato Amador de 1991, que o deixou paraplégico, e relembra o drama enfrentado para pagar o hospital.
Boteco – Como foi a contusão?
Paulinho – A gente estava perdendo de 1 a 0 pro Independente e eu tava jogando bem. Uma coisa que eu contei pra alguns amigos meus, coisa incrível que ninguém entende. O Régis do Beliskão, zagueiro, pegava a bola, dava um bicão pra frente, parece que eu tinha um imã, a bola ia pra mim. Não é história pra boi dormir. A bola parece que me procurava. Lembro que no lance do acidente, eu peguei a bola na meia direita. Cortei dois caras e faltava só um pra sair na frente do goleiro, o Vermelhinho. E eu tinha opção de tocar pro Paulinho da Usina. Mas na minha cabeça, ele estava impedido. Aí eu preferi ir em direção ao gol. Na hora que eu dei um toque pra passar o Vermelhinho, ele me deu o carrinho, pegou a bola e meu pé. Meu corpo foi virando no ar e na hora que eu estava caindo, desequilibrado, o Virjão veio de encontro pra chutar a bola. Em fração de segundos eu tentei colocar a mão no rosto pra me proteger. Só que o azar foi que meu corpo no eu cair, acho que virou, o Virjão bateu na minha cabeça atrás. Foi fatalidade, acho que não deu tempo dele desviar. Prensou minha cabeça e estourou, eu escutei o barulho do estralo. Estourou o osso do pescoço e quebrou.
Boteco – Você desmaiou?
Paulinho – O médico de Campinas disse que se eu desmaiasse, eu morria. Eu caí, só sentia meu rosto. Fui gritar socorro, e minha voz não saiu. Eu fiquei deitado. Alguém chegou: “Paulinho, o que aconteceu?” Eu fui falar, minha voz não saia, bem baixinho. Aí o El chegou, encostou o ouvido na minha boca. “Não tô sentindo meu corpo. Cadê meu braço? “Cadê minha perna?”. Viram que o negócio era grave, correram atrás de ambulância. Correram no meio da rua e pararam uma caminhonete para me levar no hospital. O médico disse que tive uma sucessão de sorte pra não ter morrido.
Boteco – Te levaram direto para Campinas?
Paulinho – Não, primeiro aqui. Tinha o soldado da Polícia Civil, o Melo, ele estava por acaso no jogo, e o Maércio. Eles viram que o negócio era grave, alguém teve a ideia de colocar uma tábua debaixo do meu pescoço. Aí o Carlinhos jogador teve a ideia de colocar os pés do lado das minhas orelhas. Minha cabeça não balançava, segurava no pé dele. Fui desse jeito pra Santa Casa. Médico falou que isso me salvou, se minha cabeça balança, eu morria. Cheguei no hospital, me encostaram: acidente de bola e largaram eu lá. A hora que tiraram o Raio-X, começou a correria, tem que transferir urgente. Meu irmão veio chorando: o médico falou que você tem 60% de chance de morrer e 40 de viver. Ligaram em um monte de hospital, não tinha vaga, só particular. O dinheiro que eu tinha guardado para comprar terreno, carro, não deu pra pagar nem uma semana da UTI. Ficou feio. Fizeram campanha, o Mogi jogou contra o Guaçuano pra arrecadar fundos. A Tucurense fez bingo e ficamos devendo no hospital. Pedágio, as amigas paravam carro pra pedir ajuda. Não é reclamação, mas eu estava desamparado. Foi justo nessa época que estava discutindo um seguro pro jogador e a ACFAMM rejeitou. Banespa era patrocinador da Copa. Ninguém me procurou pra perguntar se eu precisava de algo. Demorou pra pagar a dívida, a gente era pobre.
Boteco – Paulinho volta para recordar um título inesquecível e a época em que treinou no Flamengo, de Varginha, sonhando ser profissional.