De volta ao Boteco, Pavão relembra momentos vividos com Telê Santana no São Paulo e conta como esteve a um passo de ser convocado para a seleção por Parreira.
Boteco – Você avançava muito e tinha um cruzamento muito bom. Até que ponto a importância do Telê nos cruzamentos?
Pavão – Ele ficava depois do treino mais ou menos 1 hora, uma hora e meia treinando cruzamento comigo, com o Cafu, com o Vitor e com mais dois laterais. Eu já tinha facilidade, com o aperfeiçoamento dele ensinando, eu fiquei 100%. Tinha uns que tinham dificuldade como o Cafu, por isso várias vezes eu jogava no lugar dele porque eu ia bem nos cruzamentos. E ele ia pro meio, o Telê era inteligente, punha o Cafu no meio e eu na lateral. E como eu tinha mais habilidade, às vezes ele colocava eu no meio e o Cafu na lateral, ele sabia usar eu e o Cafu do lado direito, fazendo essas funções, revezando, muito inteligente.
Boteco – Alguma história com o Telê Santana que te marcou?
Pavão – Uma vez eu comprei um carro vermelho, um Eclipse. Aí quando ele me viu entrando no CT, ele falou assim: “Na, na, ni, na, não. Pode devolver. Vai comprar casas pros seus pais, gado, apartamento. Não quero você com esse carro, não”. Aí eu fui lá na loja, devolvi, peguei o dinheiro de volta, deu o maior rolo. Aí passou uns dois meses, fui campeão da Conmebol, aí comprei o mesmo carro de novo. Aí o Telê falou: “tudo bem, você foi campeão, você merece. Mas não é esse o conselho que dou, não. Você tem que aprender a investir, ajudar sua mãe, comprar apartamento”. Mas a gente é moleque, não quer saber, né? Aí eu fiquei com o carro.
Boteco – Alguma decepção na carreira?
Pavão – Tive três decepções com empresários, seguidas. Tomei três balões seguidos, isso foi desanimando minha carreira.
Boteco – Como foi a passagem pelo Mogi?
Pavão – Eu joguei seis meses, foi uma temporada boa. Eu lembro do Bonamigo, meu treinador. Gostei da cidade, duas cidades que eu gostei, Coritiba e Mogi Mirim.
Boteco – Como era conviver com o Wilson Barros?
Pavão – Ele me tratava muito bem, como um filho, toda vez que me via, me abraçava, me beijava, foi uma pena a perda dele, mas nunca esqueço o carinho dele comigo no Mogi.
Boteco – Quais seus melhores treinadores?
Pavão – Telê e Muricy, o Telê disparado. Ele ensinava a gente a bater na bola. Hoje em dia você chega num clube e o treinador não quer saber de te ensinar nada. E o Telê não, o pessoal na cozinha almoçando na hora do almoço e ele comigo no campo, na chuva, sozinho, me ensinando a bater na bola. Isso eu nunca esqueço, ele dando atenção para mim, sem eu ter nome, sem eu ter nada, ser famoso, nada, subindo pro profissional e o velho, uma forma carinhosa de falar, o velho me ensinando a bater na bola, na chuva.
Boteco – Quando você surgiu, seu nome era muito falado em seleção brasileira. Você tinha esse sonho? O que ficou faltando para ir mais longe?
Pavão – Eu fui pré-convocado uma vez para seleção, nesse dia o Parreira foi para me ver no Morumbi, contra o Guarani. A gente perdeu. O lateral do Guarani, Andre Ceará, arrebentou, ele levou o lateral e não me levou e foi para me ver. Eu perdi de ter ido por pouco. Mas fico feliz de ter sido pré-convocado. Mas o momento mais importante do que a seleção foi a Bola de Prata do Campeonato Brasileiro de 94 da Revista Placar, foi como se fosse uma seleção.
Boteco – Pavão volta no último capítulo de seu bate-papo no Boteco, desta vez abordando momentos envolvendo companheiros e adversários especiais, como Válber, Edmundo e Müller, e revelando quais eram os jogadores mais difíceis de marcar.