Faz um mês fomos presenteados com uma nova integrante na família. Catarina, uma gatinha de poucos dias, encontrada abandona em um matagal. Ela bagunçou a sala recentemente decorada e elevou o nível do papel higiênico – pelo menos no banheiro lá de casa.
Como ela é muito pequena, tivemos que fazer adaptações em praticamente todos os cômodos, além de nos revezarmos para que não ela passe muito tempo sozinha. Fazendo um paralelo com os filhos, como demoramos para perceber sobre quem nos tornamos a partir deles sem nos irritarmos. Não dá para chegar em casa com a unha fresca da manicure sem borrar, que é impossível deixar para a última hora e chegar sem se atrasar, que sempre é preciso ter comida na bolsa e que casa arrumada é coisa de novela.
Acho que isso acontece porque tardamos a nos ligar que o tempo que permanecem sob as nossas asas é muito pequeno, não mais que um quarto da vida. Se pensarmos na infância isoladamente, é menos ainda. E a companhia que vemos como problema é a mesma que nos faz falta quando ficam mais velhos e nos trocam pelo mundo.
A criança só precisar ser criança. Só! Ela não vai conseguir andar por horas. Ela vai querer brincar, ela vai ter fome, ela não vai conseguir ouvir conversa de adulto sem interromper, ela não vai conseguir ficar trancada em um local fechado por muito tempo sem começar a fuçar no que não deve.
Cada vez que estou cuidando da Catarina num espaço aberto fico maluca pensando em tudo que tenho que observar para não colocá-la em perigo. Vendo aquele bichinho tão pequeno ser instintivamente gato, me ocorreu sobre o quanto a natureza é sábia e que parte das nossas dificuldades é porque nós nos colocamos em locais que não nos cabe, pelo menos não momentaneamente.
É simples, a gente que complica tentando manter tudo como era antes deles chegarem, tentando agir como fazíamos nas férias só com amigos ou naquela loja requintada que não dá para esbarrar em nada.
Ainda hoje, com a Gabi e o Neto adolescentes, quantas vezes me pego tendo que parar, voltar e seguir um novo rumo. Quantas vezes deixo de tomar uma taça de vinho em casa porque estão em algum lugar e, se precisarem de mim, não posso dirigir. Quantos horários já troquei, quantos encontros com amigos desmarquei, quantos… quantos… e quantos!
Já me senti exausta por isso. Já senti falta de mim mesma. Já fiz tantas coisas porque queria estar onde o mundo dizia que eu deveria estar e fazendo coisas que todo mundo faz e me sentir pertencendo a sei lá o que. Hoje, mais madura, troco tudo por eles. Porque mais importante que as coisas no lugar, são os sentimentos alinhados.