Os problemas da segurança pública têm origens profundas e são difíceis de serem solucionados com medidas simples ou paliativas. As razões mais amplas envolvem questões educacionais, culturais e sociais. No sentido mais objetivo, a fragilidade da legislação, a lentidão da Justiça e a deficiência de números de profissionais para investigação da Polícia Civil ou no policiamento ostensivo da Polícia Militar colaboram para tornar o cenário da segurança mais problemático.
Diante das deficiências, é comum a observação de pensamentos comodistas de que a situação não irá melhorar e a sociedade está à mercê da criminalidade. Esta sensação de insegurança por muitas vezes deixa a comunidade conformada, assistindo e sendo vítima da criminalidade sem esperança de dias melhores. Com tantos problemas, o panorama só parece capaz de mudar quando se aparece uma visão diferenciada, com um projeto capaz de sair da mesmice e do comodismo, com soluções pioneiras, utilizando a criatividade contra o crime.
Este exemplo de mentalidade diferenciada foi apresentado pelo Capitão da Polícia Militar de Mogi Mirim, Luciano Peixoto, responsável pelo projeto piloto de Polícia Comunitária Rural. Um projeto semelhante foi implantado em Itapira pelo próprio Peixoto, há alguns anos, e chegou a Mogi com uma roupagem nova, com ingredientes diferenciados, que têm gerado resultados surpreendentes. O projeto consiste na aproximação da comunidade com os policiais militares, com visitas nas residências, visando que os PMs conheçam os moradores e vice-versa.
A troca de informações segue com grupos de WhatsApp regionalizados e patrulha na zona rural. Em dois meses do projeto, não houve registro de assaltos a residência na zona rural em junho e julho. Em agosto, foram apenas dois casos. Antes do projeto, no período de menos de um ano, foram 27 roubos envolvendo somente os bairros Boa Vista, São João da Glória e Pederneiras, onde o projeto começou a ser implantado, e outras áreas.
Os furtos seguem ocorrendo, mas em menor quantidade. O trabalho é feito em conjunto com a Guarda Municipal e Polícia Civil. Inédito no Estado, o projeto, dependendo dos resultados, poderá ser implantado em outras cidades. O envolvimento da comunidade, a principal interessada, tem sido fundamental, com muitos moradores trocando a sensação de segurança pela da paz.
Se os resultados continuarão sendo positivos, o tempo irá demonstrar, o que dependerá de fatores como a boa execução das tarefas por cada parte, incluindo os moradores.O fato é que junho e julho mostraram que a criatividade, aliada à boa vontade e envolvimento, pode, sim, trazer resultados, combatendo o crime com a substituição do comodismo da limitação às receitas prontas pelo dinamismo da busca por soluções novas.