sábado, novembro 23, 2024
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Polícia Civil apura caso do ‘falso médico’ que trabalhou na Santa Casa

Acusado de falsidade ideológica, exercício ilegal da medicina e negligência no caso da morte do bancário Ricardo Maiollo, o jovem de 29 anos Gustavo Fonseca dos Santos, que ficou conhecido nas últimas semanas como ‘o falso médico’, prestou depoimento na tarde de anteontem, na Delegacia de Polícia de Mogi Mirim. Santos chegou à delegacia acompanhado do advogado Expedito Junior de Divinópolis (MG), cidade natal do suposto ‘falso médico’. Por cerca de uma hora e meia, ele conversou com o delegado Luiz Roberto Janini Ortiz e esclareceu os motivos que o levaram a clinicar em Mogi Mirim, Mogi Guaçu e em Itapira, mesmo sem a permissão do Conselho Regional de Medicina do Estado de São Paulo (Cremesp).

Santos admitiu que não possui registro no CRM e que, embora seja formado em medicina na Bolívia, não tinha autorização para clinicar no Brasil. Por isso, decidiu fraudar um processo de contratação para poder atuar como médico, mesmo sem o devido registro. “Ele disse que se formou pela Universidade da Bolívia, em Santa Cruz de La Sierra, em 2013, e que quando voltou para o Brasil decidido a trabalhar, começou a pesquisar na internet empresas que contratavam médicos de forma terceirizada. Foi aí que ele encontrou o seu homônimo, o ‘verdadeiro Dr. Gustavo’, que já tinha CRM”, explicou o delegado.

Todo médico que se forma no exterior precisa prestar uma prova denominada Revalida para poder clinicar no Brasil. E como Gustavo não tinha sido aprovado neste teste ainda, decidiu usar todos os dados de seu homônimo, o médico Gustavo Fonseca dos Santos que é natural de São Paulo e faz residência médica em Campinas, para poder atuar em hospitais, sem levantar qualquer suspeita.

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Gustavo tentou se esquivar dos jornalistas após falar, e saiu da delegacia sem dar declaração. (Foto: Diego Ortiz)

Também pela internet, Gustavo Fonseca dos Santos teria encontrado a empresa terceirizada que contrataria médicos para atuar em hospitais da região. Segundo ele, a empresa não exigiu nenhum documento comprovatório para inserí-lo no quadro de médicos disponíveis para dar plantão nos hospitais. “Ele disse que somente pelo nome completo e o número do CRM do outro Gustavo foi aprovado e selecionado pela terceirizada que o encaixou na grade de plantões da Santa Casa de Mogi Mirim. Desta forma, ele passou a atuar no hospital, tendo iniciado em novembro do ano passado, seguindo na escala de plantões até, pelo menos, março deste ano”, detalhou o delegado Ortiz.

Gustavo recebia R$ 800 a R$ 1 mil por plantão de 12 horas. Além de Mogi Mirim, ele também atuou uma vez no Posto de Pronto Atendimento (PPA) da Zona Norte de Mogi Guaçu em substituição a um colega e, por outras seis vezes, em plantões do Hospital Municipal (HM) de Itapira.

A empresa
Segundo o delegado Luiz Roberto Janini Ortiz, além dele ter cometido os crimes de falsidade ideológica e exercício ilegal da medicina, a empresa terceirizada que o contratou sem os devidos cuidados e até a Santa Casa podem ser responsabilizadas na esfera cível. “A empresa, por exemplo, foi no mínimo, omissa. Tem que ter um mínimo de cuidado ao contratar um profissional. Tem que exigir a documentação pertinente e não somente um número de CRM que, como vimos, é facilmente adquirido e fraudado”, salientou Ortiz.

O POPULAR apurou que a empresa terceirizada que contratou Gustavo Fonseca dos Santos para atuar na Santa Casa de Mogi Mirim é a JPF Medservice. Um dos responsáveis é o médico João Paulo Franzon Baione. A reportagem entrou em contato com o escritório dele, mas a informação repassada por duas funcionárias foi a de que ele não estava e que não tinham autorização para passar outro telefone de contato dele.

Silêncio
Depois de prestar esclarecimentos ao delegado, Gustavo permaneceu no prédio da Delegacia de Polícia por mais de uma hora. Ele tentava despistar a imprensa, que o aguardava do lado de fora.

Sem saída, Santos acabou saindo rapidamente, de cabeça baixa, e sem dar qualquer declaração aos jornalistas. A fisionomia era séria e, diferente da foto divulgada dele recentemente quando se descobriu a fraude, agora Santos usava barba.
Ao entrar no carro de seu advogado, ele ainda tentou se esconder das lentes dos fotógrafos e cinegrafistas, colocando uma pasta de documentos na frente no rosto.

Delegado de Mogi quer laudo pericial do IML
Além do inquérito que investiga a falsidade ideológica e o exercício ilegal da medicina por parte de Gustavo Fonseca dos Santos, ele também é acusado de negligência em outro inquérito que corre pela Delegacia de Mogi Mirim, sob a responsabilidade do delegado Luiz Roberto Janini Ortiz.

O delegado esclareceu que no caso do inquérito de negligência, em que a família de Ricardo Maiollo, que morreu em 23 de março, acusa Santos de não ter dado o devido tratamento a ele, quando procurou a Santa Casa pela primeira vez, um laudo pericial será primordial para prosseguir com as investigações.

“Esse é o próximo passo. Vou solicitar um laudo completo do Instituto Médico Legal para podermos dizer se houve ou não erro médico no atendimento, que culminou com a morte do Ricardo”, comentou o delegado.

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O delegado Luiz Roberto Janini Ortiz durante entrevista coletiva.

Ortiz disse ainda que, em depoimento, Gustavo negou ser o responsável pela morte de Maiollo: “Ele disse que quando atendeu o Ricardo Maiollo, ele estava bem… andando, conversando, até de bom humor. Disse que o paciente não apresentava quaisquer sintomas graves, compatíveis com a dengue hemorrágica, por exemplo. Por isso, prescreveu apenas a soroterapia e o encaminhou de volta para a casa”.

Agora, somente o laudo pericial poderá dizer se o atendimento do plantonista influenciou ou não, na morte de Ricardo. “Se realmente ficar comprovado que houve nexo de causalidade, aí sim, o Gustavo Fonseca dos Santos poderá ser responsabilizado e indiciado, não só por negligência, mas também por homicídio culposo”, concluiu o delegado.

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