quarta-feira, setembro 18, 2024
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Latrocínio: imagens de veículo desvendam morte de investigador da Civil

As imagens de um veículo, captadas por câmeras de monitoramento, ajudaram a Polícia Civil a prender dois homens como resultado das investigações relacionadas à morte do investigador Emerson Meschiari, de 45 anos, alvejado por tiros, durante um assalto, na tarde do dia 7 de agosto, uma segunda-feira. Meschiari foi atingido na entrada da agência bancária do Bradesco, localizada à Rua Padre Roque, na região central de Mogi Mirim.

Informações apuradas pela reportagem de O POPULAR, no local do crime, apontavam que o policial civil estaria atuando como segurança de um representante de um posto de combustíveis, para o depósito de um malote de dinheiro, no momento em que foi abordado pelos criminosos, reagindo ao roubo.

Após três meses de apuração, na tarde da última quarta-feira, dia 22, uma entrevista coletiva foi concedida pelo delegado seccional de Mogi Guaçu, José Antônio Carlos de Souza, e pela delegada da Delegacia de Investigações Gerais (DIG), Edna Elvira Salgado Martins, que presidiu o inquérito, para divulgar os nomes dos autores envolvidos no crime e abordar o esclarecimento do caso, registrado como latrocínio, roubo seguido de morte.

Momento em que presos deixam a Delegacia Seccional, no Guaçu, na tarde desta quarta (Foto: Diego Ortiz)

A polícia identificou e prendeu Maurício de Jesus do Nascimento, de 32 anos, que estava na Unidade de Detenção, em Itapira, e Rafael de Oliveira Assunção, de 28, então preso no 2º Distrito Policial (DP) de Campinas. Eles ficaram separados para que não houvesse troca de informações. Outro considerado envolvido no crime, Ricardo de Oliveira Conga, de 31, é procurado pela polícia. Os três acusados, que já têm antecedentes criminais, são da capital paulista e já tiveram a prisão preventiva decretada.

Segundo o delegado seccional, o ponto-chave das investigações, e que levou à identidade dos suspeitos, foi a localização, depois de análises das imagens de câmeras de segurança, de um veículo GM Corsa, prata, com placas de São Paulo, que deu cobertura à ação criminosa.

Para Souza, é imprescindível monitorar as saídas e entradas das cidades, o que vem sendo reforçado pelo delegado, sempre que possível, em conversas com os prefeitos dos oito municípios da região. “Tem que virar um Big Brother. Tenho certeza que o cidadão de bem também quer isso”, declarou, lembrando esse ter sido o fator determinante para a elucidação do caso.

Delegado José Antônio e Edna Salgado, da DIG, em coletiva, na tarde de quarta (Foto: Ana Paula Meneghetti)

O carro, usado na fuga dos assaltantes, foi apreendido na Vila Joaniza, comunidade da zona sul da capital, uma semana depois do crime e já havia sido vendido para uma mulher. No mesmo dia do roubo, o automóvel foi multado por excesso de velocidade na Rodovia Adhemar de Barros (SP-340). Desde meados dos anos 80, a Vila Joaniza é um bairro conhecido por sua violência.

Antes da venda, a polícia descobriu que o Corsa pertencia a Assunção. Ele teve a prisão decretada no dia 10 de agosto, três dias após a morte do investigador, mas foi detido somente em 24 de setembro, no Guaçu, onde morava com familiares há um ano e meio, no Jardim Novo. A prisão de Assunção levou os policiais ao segundo suspeito. Nascimento foi detido com apoio da Polícia Federal, em Joinville-SC, no dia 1º de novembro, quando tentava fugir usando documentos falsos, enquanto Conga continua foragido.

Na quarta, os acusados foram conduzidos à Delegacia Seccional para realização do exame de corpo de delito, enquanto a entrevista era concedida à imprensa. Os presos seguiram para o sistema penitenciário onde devem aguardar até a data do julgamento. Além da autuação da Seccional, DIG e do empenho dos próprios policiais civis, todo o trabalho de investigação ainda contou com o apoio da Delegacia Especializada em Latrocínios, da capital, do Ministério Público (MP) e do Judiciário de Mogi Mirim, que aceitaram os pedidos de prisão.

Monitoramento
As imagens rastreadas, do banco e de outras ruas nas proximidades do local do crime, apontaram que os assaltantes seguiram de moto, uma Honda RR 800, até o veículo, que aguardava nas imediações. Um deles entrou no carro e fugiu em direção à Rodovia SP-147, sentido Limeira. Já o condutor da motocicleta seguiu para Mogi Guaçu.

Antes da venda, polícia descobriu que veículo pertencia a Rafael Assunção (Foto: Ana Paula Meneghetti)

A partir da identificação das placas do Corsa, os policiais encontram a mulher, moradora da Vila Joaniza, que comprou o carro. Segundo Souza, mesmo tendo conhecimento do roubo, ela fez a negociação porque Assunção facilitou a compra. Logo depois da venda, o veículo teve algumas alterações na aparência. Um adesivo foi colado na parte traseira e o engate retirado.

Vila Joaniza, zona Sul da capital paulista, onde policiais atuaram (Foto: Reprodução)

Os policiais encontraram a peça em uma oficina da comunidade. A mulher e o namorado, que a acompanhava quando houve a apreensão do automóvel, chegaram a ficar presos por um período, contudo foram liberados, uma vez que as investigações não apontaram a participação deles no crime.

O delegado seccional ainda esclareceu que foi Assunção quem observou o movimento da agência bancária, levantou informações dos clientes e acionou os comparsas. Como ele havia se mudado com a família há pouco tempo, ficava transitando entre o município e a Vila Joaniza. Na data de sua prisão, o suspeito veio da capital paulista para uma festa de aniversário de um familiar.

A polícia concluiu que, no dia do roubo, Assunção dirigia o Corsa, dando cobertura para ação de Nascimento e Conga, versão contestada por ele durante interrogatório. O acusado disse que ficou próximo ao posto de combustíveis, para acompanhar o momento em que a vítima deixava o estabelecimento, e afirmou que o Corsa era conduzido por um outro homem, chamado Negão.

Como essa versão não ficou comprovada nos autos, as investigações continuam para apurar a possibilidade da quadrilha ter mais integrantes. Conforme os policiais apuraram, o trio agia em conjunto e é suspeito de praticar outros roubos a bancos e agências dos Correios. Inclusive, para desorientar a polícia, após o crime, já é de praxe do grupo transferir o veículo para o nome de uma mulher, sempre facilitando a venda. “É uma quadrilha especializada nesse tipo de ação”, acrescentou o delegado seccional.

No momento, o delegado descartou a participação de outras pessoas de Mogi Guaçu ou Mogi Mirim no crime. No último dia 13, os policiais realizaram uma outra operação na comunidade Vila Joaniza, na tentativa de prender Conga, mas sem sucesso. As armas, uma pistola .380 e um revólver calibre 38, usados no crime não foram encontrados.

“Não sabiam que era um policial”, diz delegado

Durante entrevista coletiva, o delegado seccional de Mogi Guaçu, José Antônio Carlos de Souza, informou que os suspeitos do crime não tinham conhecimento sobre a profissão de Emerson Meschiari. “Não sabiam que era um policial”, afirmou Souza. Isso porque, no momento da abordagem, Maurício de Jesus do Nascimento, de 32 anos, identificado pela investigação como o suspeito que dirigia a motocicleta, surpreendeu o policial pelas costas, mas não atirou imediatamente na vítima.

Emerson Meschiari era chefe do SIG (Foto: Reprodução Facebook)

Imagens do circuito de segurança do banco Bradesco, divulgadas na semana do crime, mostraram a ação dos bandidos durante o assalto. Um dos acusados, Ricardo de Oliveira Conga, de 31 anos, passa em frente à agência, saca a arma, que estava escondida nas costas, e não no tornozelo, como antes se imaginava, e se abaixa para dar tempo de abordar as vítimas na posição exata. Em seguida, o representante do posto, carregando um malote, chega acompanhado do policial civil.

As vítimas são surpreendidas quando um deles, que seria o Conga, anuncia o assalto, enquanto Nascimento, também armado, se aproxima. O funcionário joga o malote no chão e o policial reage, iniciando uma troca de tiros. De acordo com o delegado seccional, os criminosos roubaram R$ 12 mil, entre dinheiro e cheques.

Souza, que acompanhou a autópsia, disse que Meschiari foi baleado quatro vezes. Um dos disparos acertou a mão esquerda, enquanto os outros três, sendo um fatal, atingiram a região do tórax. Outra evidência da participação de Nascimento é uma lesão que ele apresenta em um dos pés.

Os policiais acreditam que um dos tiros efetuado por Meschiari teria ferido essa parte do corpo do acusado. Na casa do suspeito, foram encontrados o tênis e a meia com a perfuração compatível com a posição do tiro, além de medicamentos usados nos curativos. Os objetos passaram por perícia.

Relembre o caso
O crime ocorreu na entrada da agência bancária do Bradesco, por volta das 14h. O resgate e o Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu) foram acionados, mas a vítima já se encontrava sem vida. Havia sinais de tiros na fachada da agência, que teve a porta de entrada estilhaçada, no veículo da vítima, um Vectra preto, e em outros três carros, sendo dois deles de uma concessionária localizada em frente ao banco.

Uma equipe de perícia da Polícia Científica (PC) coletou cerca de 20 cápsulas de pistola que estavam espalhadas na calçada e pela rua. Em entrevista à imprensa, logo após o ocorrido, o delegado afirmou desconhecer a versão de que o policial estaria fazendo segurança particular. Há 26 anos na Polícia Civil, Meschiari, conhecido pelos amigos como Alemão, estava prestes a se aposentar.

Ele era natural de Mogi Guaçu, mas passou a trabalhar em Mogi Mirim, em 2014, quando assumiu o cargo de chefe do Setor de Investigações Gerais (SIG). O investigador foi sepultado no Cemitério Colina dos Flamboyants, no Morro Vermelho, e deixou uma filha adolescente.

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