sexta-feira, novembro 22, 2024

Porque sim

Passou. O povo decidiu. Vamos viver sob Dilma por mais quatro anos, com os ouvidos preparados para o seu quase mantra “no que se refere…”. Mas, quanto a isso, faz parte. Não era eleição para vaga na Academia Brasileira de Letras. Não era concurso para escolher o poeta do ano. Era disputa política, disputada por políticos e seus vícios e fraquezas de linguagem.

Portanto, Dilma está posta de novo. Mas, perdendo, Aécio erigiu-se à condição de maior liderança política do Congresso Nacional nos próximos quatro anos. Será, a meu parco juízo, o líder que as casas com as metades da laranja invertidas não têm desde que Ulisses mergulhou ao fundo do mar.

Os governistas vão ter que correr atrás do mineirim. E acho que ele vai agir com um olho no peixe e outro no gato. Vai fazer marcação a Dilma sem descuidar de Lula, seu adversário em 2018.

Está bom. Acho que ainda cabe uma palavra no que se refere (olha eu traído pelo mantra) à eleição. Foi uma disputa sobre octógono de luta de UFC, MMA, essas estupidezes que chamam de esporte. Com golpes sempre acima da cintura com as mãos, os pés, a cabeça, não faltando algumas cusparadas no rosto.

Mais amenamente, foi um Fla x Flu, ou um Majestoso, ou um Choque Rei. Em outra figura de linguagem mais grosseira, foi um campeonato de ódio e intolerância. Para concluir: foi a disputa do não.

Os argumentos recorrentes foram nesse sentido: “não” ao outro, ante de “sim” a mim. Chegou-se próximo do perigoso limite da desagregação das pessoas. Em certos instantes, parecia que se buscava dividir o país entre os bons e os maus. E os maus, sabe-se o que se deseja a eles, não é mesmo?

Em resumo, sob o ponto de vista de conteúdo foi uma campanha péssima, com substancial contribuição das intervenções feitas na esfera da Internet. Nesse território, prevaleceu a irresponsabilidade, a mentira, a calúnia e tudo que vem junto quando não se mede consequência para alcançar o fim colimado (não resisto a emprestar pérolas do refinado discurso do professor Adib Chaib).

Esse clima, que por dever de ofício e compulsão facebuqueana acompanhei diariamente, obviamente que deixou sequelas. Como todas as eleições deixam mesmo, além de sequelas, vitoriosos, vítimas, perdedores, arrependidos, viúvas e órfãos. Cada caso depende da intensidade com que se aposta no candidato escolhido.

De minha parte, do mesmo modo que minha opção por Aécio era clara, clara era também minha sensação de que ele não venceria. Não me felicito por ter acertado na sensação. Ao contrário. Mas, passou. Bola pra frente.

Espero ter outras chances, o que não depende de mim, obviamente. Há muito mais gente com muito mais possibilidade que eu. A estes, digo: não se preocupem. Daqui a pouco tem outra. Será um campeonato disputado na planície, paroquialmente, com esfrega-esfrega pessoal muito mais intenso. Talvez mais agudo. Para este caso, talvez seja prudente dar um brilho na armadura.

Valter Abrucez é jornalista autodidata. Ocupa, atualmente, o cargo de Secretário de Comunicação Social na Prefeitura de Mogi Guaçu e escreve aos sábados em O POPULAR.

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