sexta-feira, novembro 22, 2024
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Precisamos acabar com a escravidão!

O que os nossos livros de história falam sobre a escravidão no Brasil? Este tema é tratado como tabu para boa parte da população, principalmente aquela que se beneficiou deste sistema. Não dá para falar de 2022 sem pensar como foi o Brasil até 1888. Bem como a maneira que fomos construídos neste intervalo e tudo o que aconteceu de 1500 até a Abolição da Escravatura.

Hoje, 13 de maio, lembramos da data em que a Princesa Isabel assinou a Lei Áurea. Motivo de festa para um povo sofrido, que viveu as maiores barbáries possíveis após serem arrancados a força de seus países e trazidos para a nação que mais usou e abusou de corpos negros em toda história da humanidade, a Abolição terminou por coroar como heroína a filha do imperador de um reino todo estruturado e enriquecido com base no açoitamento de negros e no estupro de negras. Para ficar em apenas duas das inúmeras violências que estes antepassados sofreram nas mãos de outros antepassados.

O processo foi tão árduo que, em 1850, quando foi publicada a Lei Eusébio de Queirós, proibindo o tráfico de africanos escravizados para o Brasil, tudo seguiu dentro do normal e pessoas continuaram sendo arrancadas de seus países para trabalharem forçadamente no Brasil. Foi só uma resposta formal à pressão da Inglaterra, que cobrava o fim da escravidão por aqui. No fim, foi só uma “lei pra inglês ver”. E é exatamente daí que nasceu esta expressão ainda usual.

Tivemos ainda a Lei do Ventre Livre até que veio o 13 de maio. Porém, reforça-se. A Abolição foi construída pelas mãos de negros fugidos. Desde os quilombos do século 17, até por negros livres, como Luís Gama, José do Patrocínio e André Rebouças. Recentemente um filme sobre Luís Gama entrou no catálogo da Globo Play e vale a pena assistir. Mas, ainda assim, devemos nos questionar.

Por que estas histórias não estão nos livros que nossas crianças lêem nas escolas? Por que ainda é deixado o protagonismo da queda da política escravocrata nas mesmas mãos que chicoteavam os escravos? Por que falamos tão pouco sobre a nula política de inserção destes escravos na vida em sociedade, permitindo que eles fossem tão marginalizados quanto na época em que seus corpos pertenciam aos ricos senhores e senhoras?

Mogi Mirim mesmo conhece pouco de sua história, mas, como tantas e tantas cidades antigas deste país, nasceu das mãos de bandeirantes ou outros desbravadores que tinham entre seus pertences seres humanos resumidos pela história pura e brutalmente como “escravos”.

No Brasil tivemos leis que defendiam o embranquecimento da população brasileira e até outras que criminalizavam práticas totalmente ligadas à população de pele negra, como a capoeira e o samba. Imaginem! O samba, uma das principais bandeiras do país atualmente, já foi crime simplesmente pela ideia de colocar nas celas homens e mulheres negras. Na mente dos escravocratas, nada melhor do que burlar a abolição.

Mantiveram os escravizados acorrentados por leis que os cerceavam e não dando a eles indenização alguma pelos três séculos em que tiveram suas vidas raptadas, chicoteadas e surradas. Pelo contrário. Houve quem cobrasse que indenizados deveriam ser os senhores que perderam parte de seus bens com o fim da escravidão.

Afinal, os escravizados eram mera moeda. Hoje, com a população em sua maioria negra, o Brasil ainda vive dilemas consequentes de anos de escravidão e de décadas de ausência de política para ressarcir aqueles que deram suor, sangue, leite materno e a vida para que uma minoria rica ficasse ainda mais rica, gerando fortuna para as gerações que sucederam estes poderosos e pobreza para os descendentes do povo que, acorrentado, construiu o Brasil.

Que neste 13 de maio possamos dar passos rumo à quebra definitiva destas correntes e nos reconhecer como um país de origem escravocrata e que precisa enterrar, de vez, sua cultura racista e segregadora!

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