Afinal, o que pensamos sobre a escola? De um lado, vemos essa instituição como a responsável pela educação de crianças e jovens, pelo desenvolvimento da humanidade e pelas soluções dos problemas sociais. De outro, ela é vista constantemente como problemática e obsoleta. Enfim, por que a criticamos tanto ao mesmo tempo em que apostamos todas as nossas fichas nela?
Precisamos primeiro refletir sobre o que consideramos problemático na escola. Ninguém ignora que há falta de estrutura, de recursos, de políticas públicas e existe desigualdade educacional.
Além disso, gestores escolares e educadores identificam outras questões, como a falta de parceria das famílias e a indisciplina dos estudantes. Por sua vez, famílias e governos criticam a escola dizendo que ela é uma instituição obsoleta e atrasada no que se refere às metodologias de ensino e a um currículo que forme cidadãos para um futuro cada vez mais tecnológico.
Fato é que a escola é uma instituição. E, como qualquer outra, é gerenciada e vivenciada por pessoas que trazem consigo conhecimentos, experiências e formações. Certamente, é construída por aqueles que nela atuam, mas também por toda a comunidade em seu entorno – que nem sempre reconhece a própria responsabilidade nessa construção.
Justamente por termos tanta expectativa com relação ao futuro, demandamos muito da escola lavando as nossas mãos, identificando-a como a única responsável pela educação e, aparentemente, nunca nos satisfazendo com seus resultados.
Muito disso tem um motivo claro: não damos a devida autoridade aos seus profissionais.
Dois Olhares
Nas escolas públicas, muitas vezes é diferente: educadores são vistos como heróis e heroínas – o que significa, basicamente, que se empenham mesmo sem as condições necessárias para o trabalho. São os que fazem valer cada vez mais a função social da escola, tanto com relação à educação formal quanto no que diz respeito ao cuidado, à assistência e à formação humana. Enquanto isso, nas escolas privadas, docentes são questionados diariamente sobre suas escolhas pedagógicas. E desqualificados também – afinal, “o cliente tem sempre razão”.
Pensar a escola é necessário, e as críticas e exigências são tão válidas quanto como seria com qualquer outra instituição. Mas precisamos parar de achar que sabemos mais do que os profissionais que a fazem existir mesmo em condições indesejadas. Em vez disso, lutemos por ela, demos a essa instituição o seu devido valor. Afinal, a boa escola é aquela que atua da melhor forma com o que tem, e é isso que seus profissionais fazem diariamente. Portanto, merecem nosso voto de confiança.
Lara Marin é mestre em Estudos Culturais pela Escola de Artes, Ciências e Humanidades da USP.