A reunião de quarta-feira, na sede do Poder Legislativo, já se encaminhava para o final quando o prefeito Carlos Nelson Bueno (PSDB), calado a maior parte do tempo, recebeu o microfone das mãos do secretário de Relações Institucionais, Beto Amorim. Em pouco mais de cinco minutos, um desabafo visto inúmeras vezes desde que reassumiu o comando da Prefeitura Municipal, mas com contornos de drama. Aparentando sinais de abatimento, o prefeito, em voz serena, voltou a lamentar a crise financeira e administrativa vivida pela Administração Municipal, e escancarou a possibilidade de não concluir seu mandato, que segue até dezembro de 2020. “Eu não sei se aguento neste tranco concluir o meu mandato, porque eu estou levando pancada de todos os lados”, lamentou.
A frase antecedeu um cenário descrito por ele como previsível. Carlos Nelson salientou que o problema relacionado aos quinquênios, biênios, sexta-parte e outros benefícios concedido à parte do funcionalismo público, segundo dados da Prefeitura a 1.473 profissionais, contratados antes de 2006, foi alertado por ele anos atrás.
“Em 2006, o Gerson (vereador Gerson Rossi), era o chefe de Gabinete e nós já fizemos uma primeira tentativa de revogar a lei que autoriza biênio, quinquênio e sexta-parte. Insistimos de todas as formas políticas possíveis e encontramos uma enorme resistência na revogação da lei para todos. Há praticamente dois anos atrás eu já antevia o que está acontecendo agora. Eu até fico feliz de estar certo, gostaria de estar errado”, contextualizou.
Prenda
Carlos Nelson voltou a refirmar que o município não terá investimentos em um futuro próximo e que depende de doações para melhorar.
“O governo está inviabilizado, nós não vamos conseguir investir R$ 100 mil esse ano com recursos próprios, se não houver alguma emenda generosa de algum deputado federal, ou se não houver uma prenda do Estado ou do Governo Federal, o município não investe. Vamos comprar uma motoniveladora com R$ 450 mil do Desenvolve São Paulo (programa do governo estadual). Estamos conseguindo fazer alguma coisa na via pública, limpeza, melhorias nas questões essenciais da cidade, graças a 35 detentos do CR (Centro de Detenção, após convênio com a Prefeitura). Se não fosse eles, nós não teríamos condições de fazer o que estamos fazendo”, alertou.
Prefeito pede mais ideias e cérebro para funcionar
Desmotivado, o mandatário voltou a sugerir uma união de forças para salvar o município. “Eu gostaria de idéias, todos têm idéias, todos têm cérebro. Todo mundo precisa pensar para encontrar uma saída que seja democrática e justa, porque a economia do país não vai crescer, todos os indicadores são péssimos, nós estamos regredindo, de quatro meses para cá. A situação está se tornando o inverso do que se imaginava”, disse, em tom de ceticismo.
Para ele, as eleições de outubro serão fundamentais para buscar colocar o país em uma diretriz. “Vamos rezar para que haja luz do eleitor de colocar alguém que tenha capacidade de gestão desse país, nós somos vítimas disso (crise política e financeira). Qualquer município paga o preço do desastre nacional”, colocou.
Carlos Nelson fez uma previsão para o futuro prefeito de Mogi Mirim. “Provavelmente, tem muita gente pretendendo ser prefeito de Mogi Mirim. Boa sorte, boa sorte, porque aquilo que estava se dizendo o que vai acontecer, já aconteceu (série de problemas)”, contou, olhando, de forma tímida, para a vice-prefeita Lúcia Tenório (PPS).
Filiada ao PPS, não está descartada a possibilidade de Lúcia ser candidata a deputada estadual ou federal nas eleições de outubro, tampouco concorrer ao cargo de prefeita em 2020.