sábado, novembro 23, 2024

Pressa

Até uns quatro anos atrás eu queria ter mais um filho. Como fui mãe muito cedo, tinha a impressão que fiz tudo muito rápido e achava que, se acontecesse agora, seria tudo mais calmo. Ainda bem que a planilha financeira do meu marido não permitiu rsrsrs! Certamente, fazer as coisas desapressada, não aconteceria.

Quando a Gabi nasceu, eu já queria sair da maternidade vestindo calça jeans. Também não via a hora de contar para todo mundo que ela dormia a noite inteira. Embora fosse entrelaçada com aquele bebê, planejava seguir preparando receitas e recebendo pessoas em casa. Mas a real é que eu mal conseguia fazer meu próprio prato.

No segundo filho então, S E N H O R! Na noite seguinte que chegamos do hospital já estava dormindo no próprio quarto, sozinho! Quando fui levar para fazer o teste do pezinho, que acontece poucos dias depois do nascimento, escovei o cabelo e coloquei uma roupa boa com o intuito de mostrar ao mundo que estava tudo sob controle: casa arrumada, crianças limpas e eu bem cuidada.

Hoje me acho tão ridícula quando penso nisso. Você acha mesmo que, pela quantidade de pessoas que passam pelo sistema público para fazer este exame, alguém ia reparar nisso? E vou além. Hoje, se vejo uma cena como esta, o primeiro pensamento que me vem à cabeça é: “poxa, ela ainda está se adaptando a tudo isso e organizando o que é importante”, com afeição.

Ir pendendo a pressa faz parte de um caminho que a maturidade foi me mostrando, mas que ainda é essencialmente por escolha, não natural. Ainda preciso aquietar todas as necessidades que gritam dentro de mim, a maior parte delas vinda do comparativo com o mundo, para ouvir. E, em partes, se considerarmos que hoje não é mais questão de sobrevivência como era quando dependentes, é preciso mais esforço.

Quantas vezes queria que fosse possível ter o botão de velocidade igual ao do WhatsApp quando estão me contando uma história?! Quantas ligações, respiro fundo e me concentro para prestar atenção no que estão falando!

Por tudo isso que digo que a planilha me salvou. Eu novamente ensinaria o bebê a segurar a mamadeira sozinho com poucos meses, o faria ficar horas na cadeirinha do carro perambulando de um lado a outro enquanto tudo que ele precisava era de sossego. E, com certeza, colocaria um chiqueirinho cheio de brinquedos na sala ao lado do escritório para seguir trabalhando.

E sabe por quê? Porque esta sou eu, extremamente prática – com uma dose de insensibilidade – e a minha maternidade possível. A pessoa sentada na cadeira de amamentar sem aflição por estar ali “parada” existe apenas na caixinha da idealização. Ser feliz fazendo muitas coisas ao mesmo tempo faz parte de mim.

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