De cada quatro mulheres brasileiras, pelo menos uma já sofreu algum tipo de violência doméstica. De cada 100 mulheres assassinadas no país, apenas quatro tinham procurado a delegacia para fazer boletim de ocorrência.
“A maioria sofre calada”, observa a vereadora Sonia Modena, que convocou audiência pública, realizada nesta quarta-feira, 11, à noite, na Câmara, para debater a violência contra mulher.
O Brasil ocupa o 5º lugar no ranking mundial de feminicídio, segundo o Alto Comissariado das Nações Unidas para os Direitos Humanos (ACNUDH). O país só perde para El Salvador, Colômbia, Guatemala e Rússia em número de casos de assassinato de mulheres.
Em comparação com países desenvolvidos, aqui se mata 48 vezes mais mulheres que o Reino Unido, 24 vezes mais que a Dinamarca e 16 vezes mais que o Japão ou Escócia. Só nos primeiros oito meses deste ano foram registrados mais de 1,2 mil feminicídios no Brasil.
“Não dá mais para ficar confortável na nossa ilha de comodismo enquanto há mulheres sendo violentadas e mortas o tempo todo”, diz a secretária municipal de Assistência Social, Leila Iazzetta. Informa que Mogi Mirim tem projeto para construir uma casa de acolhida para mulheres vítimas de violência.
Mais de 1,3 mil estupros ocorrem todos os dias no Brasil. Menos de 1% são registrados. De cada 10 vítimas, sete são crianças e adolescentes até 19 anos. Por outro lado, as agressões físicas têm como vítimas mulheres entre 20 e 39 anos – 55% dos casos. Destes, 70% ocorrem dentro de casa. Uma mulher é agredida a cada 4 minutos no Brasil, segundo levantamento do Ministério da Saúde.
“O Brasil é um dos lugares mais perigosos do mundo para a mulher viver e o lugar mais perigoso é dentro da própria casa”, destaca a ex-delegada da Delegacia da Mulher, Judite de Oliveira.
Propostas
Para a advogada Izabel de Campos Maluf, presidente do Conselho de Defesa do Direito da Mulher de Mogi Mirim, a prevenção deve começar pela educação, nas escolas.
Um projeto de lei em trâmite no Senado Federal visa incluir conteúdo sobre violência contra a mulher nos currículos da educação básica, para que haja uma inflexão no padrão cultural brasileiro, que, se não é permissivo, não tem sido impeditivo.
Entre outras propostas discutidas na audiência pública, falou-se em criação da Patrulha Maria da Penha para atender casos de violência contra mulher, do projeto Mãos emPENHAdas para profissionais da beleza identificar casos de violência e fazer a denúncia, de criação de grupos para acompanhamento de vítimas.
“Em briga de marido e mulher tem que se meter a colher, sim”, destacaram os debatedores.