Após viver mais de duas décadas junto ao esposo, a escritora Cristiane Donegá, que hoje tem 46 anos, se viu sozinha. Seu marido se foi após sofrer um acidente de trânsito e a história de amor do casal, da perda e superação de Cristiane se transformou em um livro chamado Fiquei viúva, e agora?. A obra foi lançada no dia 21 de novembro, na Paróquia Santo Antônio, em Mogi Guaçu. O livro, que é o primeiro de Cristiane, pode ser encontrado no site da livraria Paulinas e custa R$ 15.
A obra foi escrita entre os anos de 2009 e 2011. No entanto, Cristiane conta que não tinha a pretensão de publicar. Somente agora, após anos, é que a obra deixou de ser um projeto engavetado. O motivo que fez com que Cristiane publicasse o livro é que, após a perda do esposo, chegou a procurar obras que acalentassem suas dores e dessem forças para continuar a jornada. Mas, segundo ela, as publicações existentes não atendiam suas necessidades, pois em sua maioria trataram sobre a perda do homem enquanto provedor de uma família, por exemplo, ou perdas de filhos.
“Mas não era isso. Sentia falta do meu companheiro, do meu amigo, do meu sócio, sentia a cadeira vazia (…). Então nesse livro conto a história da nossa paixão até quando ele morreu. Hoje me sinto recuperada, mas é como se tivesse perdido uma parte do corpo e precisasse usar muletas”, disse a autora.
O que Cristiane sentia era a falta do amor da sua vida, a dor da saudade do tronco que havia se fundido em seu tronco, conforme poema feito por ela, chamado Como duas árvores (vide texto no boxe).
O objetivo de Cristiane é dialogar com outras mulheres e também homens que passam por esse momento, sabem que precisam se reerguer, mas que sente a dor arder no coração. Trata-se de uma palavra amiga, de alguém que viveu a mesma experiência, e quer dividir, acolher, entender. A obra também pode ser lida por quem está do outro lado e deseja compreender a dor da perda para ser solidário.
“As pessoas geralmente não sabem lidar com um enlutado. O externo cobra que sejamos fortes. Você sabe que precisa ser forte, mas ao invés de dizer para ser forte porque não nos ajudam de outra maneira? No meu caso não conseguia nem ir ao supermercado fazer compras sozinha e uma amiga se ofereceu para ir comigo. As pessoas podem ajudar fazendo isso e outras coisas, porque nessa hora precisamos de silêncio e respeito. É como se fosse um parto ao contrário. Para ser mãe as pessoas não se preparam? Então, a despedida também exige um tempo”.
Fiquei viúva, e agora? busca estreitar laços com pessoas de qualquer religião, apesar de Cristiane ser católica. Afinal, a dor não tem crença! Quem sabe por meio do diálogo mais pessoas consigam se reerguer assim como ela.
“A viuvez transformou o meu caminho, a minha forma de ver os fatos e de viver a vida. Passo a passo fui conseguindo me adaptar à nova realidade, à medida que também ia mudando meu interior”.
A saudade existe, o peito às vezes dói, mas a superação chegou. No entanto, lembranças jamais serão apagadas. O amor era forte, Como duas árvores, trecho do poema de Cristiane Donegá:
“Como duas árvores à beira de um rio,
Plantadas lado a lado, algo assim,
Meu tronco no seu tronco se fundiu,
Dois em um, eu em você, você em mim”.
—
Foto: Flávia Benegas