Esses dias o Neto me pediu um álbum da Copa. Relutei, não vi sentido gastar dinheiro com um pedaço de papel que depois ficará ocupando gaveta com outros dois. Pensei tê-lo substituído pelo Pix do rolezinho de sábado à noite ou pelo quilinho do churrasco. A questão é que tem uma banca no caminho para casa e cada vez que passava por ali ela estava cheia, o que fez este cabeção ser inundado de lembranças.
Foi nessa mesma época, anos atrás, que o Neto com o Arthur – um vizinho – começaram a bater as asas sozinhos. Deixava ir, mas contava os minutos para voltarem. Combinavam hora e seguiam juntos, sem a presença de adultos, a pé, atravessando uma das ruas mais tumultuadas do bairro, com dinheiro no bolso, tomando suas próprias decisões, enquanto eu fazia figas para dar tudo certo.
E são tantas outras coisas boas. Vez ou outra passávamos para comprar um pacotinho na saída da escola. Dava para ver no rosto a ansiedade pelo que ali estava escondido e a comemoração cada vez que um espaço era preenchido. Cada “trocado” sem dono ganhava destino.
Embora acredite que as pessoas são boas, sempre que cabia eu estava junto, na espreita, percebendo se ninguém ia querer duas por uma. E aconteceu!
Não por maldade, mas pelas regras do jogo. Aliás, tá aí outra coisa construtiva em algo que parece brincadeira de criança: ter iniciativa em negociar com quem não conhece, muitas vezes bem mais velho. Também presenciei a prática da caridade, do lado de lá e de cá, doando e recebendo figurinha repetida sem ter nada para trocar.
Baseada em evidências, mudei de ideia. Tudo isso de vida que um simples modismo já me acrescentou foi combustível mas, o nocaute mesmo foi quando associei que possivelmente este é o último álbum que eu compro. Esta pode ser a última vez que discuto sobre jogadores que nem imagino quem sejam no caminho de casa. A verdade é que na próxima meu menino mais novo terá completado 21 anos e, caso ainda mantenha o interesse, possivelmente não me envolverá nem com autorização, nem com dinheiro e menos ainda na direção do carro.
Isso me fez querer esse álbum muito mais que o Neto. De certo que nada disso passa perto de suas percepções. Já deste lado, se tem uma coisa que ficou muito clara para mim nos últimos tempos é que minha escolha de vida é criar boas memórias. Quero ser para ele e para a Gabi aquela saudade gostosa, aquele leite quente numa manhã fria antes de ir para a escola. Sabe aquele telefone de madrugada quando tudo parecer não fazer mais sentido? É isso!
Parece bobeira, mas não vejo isso acontecendo sem ser caprichosa com os detalhes, sem entender que um álbum é muito mais que papel. Graças a essas figurinhas tive que colocar macarrão na sopa de feijão. O que era para ser um caldinho ralo com couve, virou uma panelada densa para nove moleques. Fiz aquela mágica comum às mães: do que tinha na geladeira um jantar completo. E o Neto fez comigo o que os filhos naturalmente fazem com os pais: impulsionam. E viva a Copa!