2020 está chegando ao fim e, meu Deus do Céu, que ano! Eu não acredito naquele clichê básico de “ano novo, vida nova” porque penso que as mudanças são gradativas. Mas, confesso que sempre aproveito este período para fazer uma reflexão, tipo a “Retrospectiva da Globo” mesmo, sabe?
Gosto de analisar se foi mais positivo ou negativo e se, de alguma forma, consegui estar mais perto daquilo que gosto de ser. Viver na zona de conforto é um mecanismo de defesa do cérebro. Quando ele percebe que estamos partindo rumo ao novo, lá dentro, uma chavinha liga e ele faz de tudo para te trazer de volta para onde ele conhece.
Afinal, gasta-se muita energia para fazer algo novo. Por isso é tão “sofrido” quando temos grandes mudanças na rotina como a que ainda estamos vivendo. Naquelas duas semanas que o mundo parou, eu que sempre reclamo de ir ao supermercado, me peguei chorando dentro do Lavapés pensando no que poderia vir: na escassez de alimento, de dinheiro, na possibilidade de saques e aumento da violência. De repente tudo ficou tão próximo de nós. Percebi como às vezes torno difícil o que é fácil.
Não sei quantas vezes oscilei entre céu e inferno! Chorei vendo meu filho dançando a música junina na copa, de pijama e camisa listrada. Chorei vendo meu marido chorar porque não sabia o que esperar da economia. Fiquei irritadíssima porque estava a 15 dias da minha primeira meia maratona e todo aquele esforço de meses foi por água abaixo. Sem falar nas dores do corpo, que estava sendo testado ao extremo e de repente teve que ficar quietinho.
Por outro lado, nós quatro nunca havíamos ficado tanto tempo juntos sem influência externa. Levantei da cama sem hora definida, deu para fazer bolo no café da tarde, para cozinhar todos os dias e para nos olharmos sem pressa. E foi sensacional! Também deu para deixar guardada a máscara social: aquela unha pintada mesmo quando não se está a fim, a ida naquela festa só por obrigação, o salto que aperta o pé.
Não, eu não acho que sairemos melhores disso tudo porque só acredito em transformações individuais e elas não dependem do externo, mas de decisão. Acho que a grande lição da Covid é jogar na nossa cara a finitude. É a certeza de que não existem certezas. Tornou impossível fazer planos a longo prazo e nos fez, na raça mesmo, viver um dia de cada vez.
Mas também mostrou que a vida é feita de pequenas escolhas. Podemos nos movimentar ou escolher desculpar-nos. Dá para seguir plantando ou ficar parado colocando a colheita indigesta na conta do mundo. Acima de tudo mostrou a importância da base sólida, daquele lugar que nos cabe quando tudo lá fora é névoa e incertezas. E o que eu desejo, do fundo do meu coração, é que você, caro leitor, no meio disso tudo, tenha tido o privilégio em ter reconhecido um lugar como este para chamar de seu. Nos vemos em 2021!