Ah, o espírito olímpico. Do ambiente em que atletas do planeta todo congraçam após anos e anos de um ciclo insano aos sofás em que nós, meros expectadores, lançamos expectativas sobre estes humanos que, de tempos em tempos, são olhados com mais carinho.
Nos primeiros dias de disputa, vimos uma fadinha de 13 anos subir ao pódio, o skate e o surf, modalidades que carregam visões preconceituosas, darem orgulho de ser brasileiro, entre outras medalhas individuais e avanços de equipes coletivas. Teve ginasta colocando o “Baile de Favela” para o mundo todo ouvir e, claro, derrotas. Oras, é uma competição. Há os que ganham e há os que perdem. Em um momento vencem. Noutro, perdem.
A vida é assim, não? Claro que sim. Mas o que pouco vemos, com exceção ao futebol e olhe lá, é o bastidor. É a vida que há por trás de cada atleta. E, quando se trata do Brasil, das inúmeras dificuldades para evoluir. Torcemos, mas, muitas vezes, cobramos de forma desproporcional ao apoio à estrutura, ao sistema.
Por aqui, por exemplo, o atual governo federal transformou o Esporte em mera secretaria e tirou dele o status de ministério. Bem sabemos o quanto o esporte transforma vidas e a sociedade como um todo. Não é à toa que as escolas particulares mais caras do país oferecem uma gama tão variada de modalidades, além de investimento em intercâmbio esportivo internacional, com parcerias com organizações de altíssimo nível, como a NBA.
Quem tem condições financeiras sabe desta importância. Mas isto não se retrata em conversão aos que não têm privilégios econômicos e que dependem da estrutura pública para tal. Ver sair novas Rayssas que, com 13 anos, se torna um gigante exemplo do desperdício que geramos ao não oferecer o máximo de esporte (e também cultura, claro), às nossas crianças, é uma esperança quase utópica.
Mas desistir, jamais. Até porque, mais do que criar competidores, o esporte fecunda cidadãos melhores. Pessoas com maior senso de coletividade, em exemplos que vão desde a luta de skatistas para transformar a imagem da modalidade, antes perseguida por aquela ala política que deseja conservar hipócritas costumes, indo até a diversidade religiosa, como bem expôs Paulinho, atacante do futebol masculino, em sua fé em Exu. O esporte nos ensina e derruba tabus.
Por isso precisamos de melhores condições e uma visão macro àqueles trabalhos que já são tão bem elaborados por aqui, como o handebol, o voleibol e a natação, investimento em modalidades ainda sem base, mas com grandes referências, como o biatlo, a corrida de montanha, o triatlo e o tênis de mesa e apoio para o desenvolvimento de novas modalidades, com projetos já existentes, como o badminton, na ICA, e outras atrações, inclusive, mais modernas, como futevôlei, skate e e-Sports.
Fato é que o espírito olímpico não pode nos empolgar a lançar textões nas redes sociais em tempos de louros e esquecimento na fase de fomento. É preciso jogar por esta causa. E vencer!