Precisamos ficar atentos, pois a inflação pode voltar e com isso muita água ainda vai rolar este ano, após três deflações seguidas, o mercado já está de olho na sinalização do Banco Central (Bacen) para saber quando a autoridade monetária baixaria as taxas de juros, antecipando um movimento planejado para o meio do ano que vem. Entretanto, a ata do Bacen mostra que a preocupação não abrange tanto as eventuais quedas da taxa básica, mas, sim, a inflação descontrolada. O posicionamento do Bacen foi preciso.
O IPCA (Índice de Preços ao Consumidor Amplo) do mês passado revelou inflação de 0,59% acima da perspectiva do mercado, gerando um pequeno aumento na previsão do relatório Focus para este ano: de 5,63% para 5,82.
Um grande ponto de atenção foram os alimentos, principalmente nos lares, que afetam os mais pobres. O grupo, em geral, obteve alta de 0,72% e influência de 0,16 ponto porcentual (p.p.) para o índice geral, fechando em 0,80% – enquanto o grupo de fora do domicílio, em 0,49%. Vale lembrar que essa categoria apontou deflação de 0,51% em setembro.
Contudo, o desempenho em outubro mostra que os valores desses alimentos estão longe de se estabilizarem e isso afeta a parcela mais pobre da população, forçando-a a gastar a maior parte da renda nesses itens.
Os combustíveis são o outro ponto importante na curva. A intervenção do governo nos preços, com baixa de impostos, já mostra sinais de esgotamento. Além disso, a proximidade do inverno no Hemisfério Norte e o posicionamento mais radical da Organização dos Países Exportadores de Petróleo (OPEP) devem gerar nova alta no valor do barril de petróleo. Apesar do recuo dos combustíveis em outubro (-1,27%, bem menor do que nos meses anteriores), a tendência é voltar a crescer.
Outro item, mais estrutural, perturba: o desafio fiscal que se aproxima. Ao injetar recursos demais na economia, o governo pode interferir negativamente na inflação, colocando mais “lenha na fogueira”.
Ainda estamos muito longe da meta e não devemos atingi-la nem em 2023. Se a política fiscal se tornar expansionista demais, corre-se o risco de gerar ainda mais pressão na política monetária, obrigando o Bacen a “enxugar” a liquidez e aumentar as taxas de juros.
A autarquia agiu corretamente em ancorar as expectativas do mercado e deixar clara a importância de a estagnação da taxa em 13,75% ser suficiente para resolver o problema inflacionário. Com isso, afastou a tese, ainda muito precipitada, de tentar adivinhar o momento ideal de baixar os juros básicos.
Assim, o Bacen envia um recado à política fiscal, segundo André Sacconato, economista da FecomercioSP: “Ao seguirmos juntos, poderemos, em algum momento, flexibilizar os aumentos. Entretanto, se você se comportar de maneira mais expansionista, terei de apertar ainda mais a oferta monetária”. Agora estamos vendo, na prática, a importância de um banco central independente. Esse foi um dos maiores ganhos que o Brasil já teve nos últimos tempos. Portanto, as coisas não são como parecem, nem parecem ser o que são.
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