Por Celso Davoli de Oliveira*
Existem ainda, neste mundo por vezes tão despreparado, pessoas sensatas, honestas, dedicadas, compreensivas, corretas e coerentes. Acreditem, senhoras e senhores, que elas existem – e, quando as encontramos, não há Padre Quevedo que nos convença do contrário, pois não são ilusões, são verdadeiras, nos dois sentidos da palavra: na de sua existência real e na da verdade que trazem dentro de si .
Uma destas pessoas está em Mogi Mirim. Está, porque permitiu com sua gentileza que a cidade recebesse seu talento e sua inteligência. Não nasceu em Mogi Mirim, mas integrou-se ao município com enorme dedicação. É o professor Benjamim Quintino da Silva, que os mogimirianos já reconheceram no título simplório, ainda que atrevido, deste artigo. Mas o professor Quintino não é só um mogimiriano. Ele é um nome estadual, nacional, senhoras e senhores. E não é unicamente um professor de Química, como muitos o conheceram, mas é um professor em tempo integral, porque nos ensinou muitas coisas apenas pela convivência com ele. Com sua diplomacia congênita, Quintino transmitiu por um tipo de osmose social e espiritual valores tão puros, sinceros e honestos que hoje muitos de nós até duvidamos que existam.
Foi ele quem ensinou a incontáveis pessoas como é se dedicar à causa do crescimento social, como promover os indivíduos, como tornar melhores as instituições, como fazer de cada um de nós um instrumento de movimentação para uma sociedade melhor. E foi aí que o professor Quintino se envolveu com a fundação da Guarda Mirim. E foi aí que a Guarda Mirim se tornou a CEBE “Professor Benjamim Quintino da Silva”. E foi aí que a CEBE retirou o nome dele de sua denominação. Mas, esperem: retirou? (murmúrios de surpresa na plateia… ares de indignação entre os espectadores). Como? Por quê? Acaso o professor nos surpreendeu com algum escândalo? Acaso fez alguma declaração imprópria e por isso foi cancelado, como tem acontecido mundo afora? Não, senhoras e senhores. Nada disso. O homem que ensinou Química, que distribuiu conhecimento, que semeou diplomacia, que incentivou o Interact, que ajudou a fundar o Rotaract, que foi presidente e governador distrital do Rotary Clube, que fundou a Guarda Mirim (depois CEBE), teve simplesmente seu nome retirado da denominação da instituição sem que para isso tenha contribuído de qualquer forma desonrosa. Pelo contrário: nestes seus 90 anos continua sendo um farol muito bem iluminado em tempos de mares sombrios, revoltos e até assustadores.
Não se sabe até hoje porque aconteceu a retirada do nome, embora isso já tenha ocorrido há algumas semanas. Sabe-se que o outrora homenageado, hoje desomenageado (fica aqui desde já uma sugestão de novo verbete para o Aurélio), foi elevado à condição de sócio-honorário da instituição. Ou seja: subiu para baixo, porque argumentar que é elevação retirar seu nome da instituição para colocá-lo nesta nova classe não faz muito sentido. Aí, sim, Padre Quevedo poderia dizer: — isso non ecziste! Mas o professor Quintino sim, ecziste, e seu exemplo de quem ajudou a melhorar a vida de milhares de pessoas apenas por saber que este é o caminho e sem receber nada em troca deve permanecer e ser perpetuado.
* Celso Davoli de Oliveira é jornalista, ex-bolsista da Fundação Rotária junto ao programa de pós-graduação da Universidade do Colorado (EUA) e ex-presidente do Rotaract Clube de Mogi Mirim