sábado, novembro 23, 2024

Rabo de cavalo

Faz alguns anos. Estava acompanhando as crianças na natação quando a cena de um pai ajustando o maiô da filha, fazendo um rabo de cavalo e colocando a toca me fez viajar no tempo. Assim que a entregou à professora, ligou o computador numa mesa ali ao lado da piscina e começou a trabalhar.

A introdução da mulher no mercado de trabalho se deu com a I e II Guerra Mundial (1914 – 1918 e 1939 – 1945), quando os homens iam para as batalhas e elas passavam a assumir os negócios da família e a posição deles. Atualmente, mais de 64% trabalham fora, sendo as principais responsáveis pelo sustento de 45% dos lares.

Falamos tanto sobre o espaço conquistado por elas e gritamos tanto aos quatro ventos sobre desigualdade enquanto deixamos de lado algo tão importante. Se a mulher conquistou um espaço pouco habitado por ela, os homens também passaram a ter o privilégio de participar de funções antes tão pouco exercidas por eles.

Meu avô, por exemplo, sempre foi um homem extremamente doce e amável, mas que pouco se emocionava, como se isso fosse sinônimo de fraqueza. Embora tivesse um coração enorme, não consigo imaginar ele penteando um cabelo que não fosse o próprio.

Num passado bem recente, o pai era aquele que vinha no final da tarde e a quem todos temíamos quando infringíamos as vontades da mãe kkkk. Quem nunca ouviu um “Vai tomar banho, se não você vai ver a hora que seu pai chegar”. E o pau comia mesmo, muitas vezes.

E hoje, estando do outro lado da história, tenho certeza que, se aquilo era comum, acontecia apenas por repetição e não por um estado natural de braveza e punição com os quais os homens já nasciam. Em segundo plano, tem muito mais cara de reflexo impulsivo.

Imagina a cena: depois de um dia de trabalho, você mal coloca o pé em casa e alguém já começa a reclamar, apontando os piores comportamentos que um filho poderia ter como nada de lição de casa, nada de lavar a louça, nada de desligar a televisão quando foi solicitado… Precisava ser muito “zen” para não se contaminar e ter reações explosivas em minutos.

Que bom que tudo isso mudou. Que bom que nós mulheres podemos escolher ir para o mercado de trabalho quando isso faz sentido no nosso ambiente familiar. Que bom que os homens podem fazer rabo de cavalo, podem levar e buscar os filhos e aproveitar toda a intimidade que os papos do caminho provocam. E que bom que eles também podem escolher serem os “donos de casa” se assim desejarem.

Lá em casa a responsabilidade sempre foi dividida. Não tem essa de ameaçar que “alguém vai chegar”. Quem está no fuzuê a hora que ele acontece, resolve. Os pesos são iguais. Já os prazeres, confesso que ainda são mais meus.

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