sábado, novembro 23, 2024

Receita pronta

Partindo do princípio de que todos somos indivíduos complexos e diferentes, jamais, nunquinha, nunquinha, nunquinha deveríamos dar uma opinião para a qual não fomos convidados. Aconselhar descreve cenas sobre nós, a partir de nossos sentimentos. Transmite como nos comportamos quando tivemos em determinada situação que jamais será igual a outra.

Se entre irmãos de pai e mãe, tem o que adora morango e o que é alérgico, o que faz alguém pensar que o que ela acha, baseado exclusivamente em como viveu, é capaz de servir para todo mundo?

O Neto nasceu em outubro. Quando era bebê, não me pergunte o por que, ele se acalmava quando usava meias. Às vezes estava muito quente e eu tentava deixar sem, mas ele ficava inquieto. Não sei quantas vezes ouvi um “não está muito calor para ele ficar de meias?”.

Com a Gabi foi bem pior! Ela chupava os dedos, dois ao mesmo tempo. Meu Deus do céu, eu perdi as contas de quantas sugestões ouvi para resolver algo que eu nem sabia se era relevante para nós.

A questão é que criamos nossa comunidade em nossa casa, um jeito próprio de fazer as coisas. Além de gosto, ele leva em consideração questões sobre disposição, tempo, dinheiro, experiência familiar e até mesmo a capacidade intelectual em lidar com situações. Aí vem um super-herói com visão biônica que conviveu por cinco minutos, insuficientes até para ver só a ponta do iceberg, com as soluções para uma dor que às vezes você ainda nem reconheceu que tem.

O filósofo grego Sócrates foi bem feliz em sua definição quando disse “Só sei que nada sei”, demonstrando como quanto mais se conhece sobre um assunto, mais se percebe que ainda há uma vastidão a saber. É como se eu, corredora amadora de cinco quilômetros, me achasse capaz de direcionar um maratonista só pelo fato de termos um esporte em comum. Em se tratando de vidas, fica mais complexo ainda, como apontar soluções para além de mim?

Mas tem o outro lado também! Tem os que não gostam de ser responsáveis pelas próprias escolhas, seja por preguiça, incapacidade ou para ter em quem jogar a culpa caso falhe. Já cansei de ver perguntas tipo “peguei conversa do meu marido com outra no celular, devo me separar?”.

Jesus, meu sangue chega a ferver nessas horas. Veja bem, só você sabe quem é seu marido, como ele é como companheiro, como pai dos seus filhos, o tamanho que ele ocupava no seu coração, na sua vida… Como pedir uma resposta tão simplista a alguém que, às vezes, nem nunca te viu?

Por isso é tão perigoso adotar gurus, principalmente os famosinhos da internet, com fórmulas de sucesso sempre prontas. Eu tenho uma bronca com aquela ideia de que “basta você querer e desejar profundo”. Não basta! Na maior parte das vezes precisa de muito trabalho, de muita escolha e tem dias que a nossa “melhor versão” só é capaz de levantar da cama e calçar chinelos.

Viver não é receita de bolo!

RELATED ARTICLES
- Advertisment -

Most Popular

Recent Comments