Em menos de 15 dias, a região teve outro caso de feminicídio. A dona de casa Dávinny Darini Alves, de 23 anos, foi morta cruelmente, com diversos golpes de faca, pelo ex-companheiro Danilo Cabral Domingos. Dessa vez, o caso de violência contra a mulher ocorreu no bairro Ypê V, em Mogi Guaçu, por volta das 21h do último dia 27. domingo. Recentemente, uma mulher de 35 anos foi assassinada com um tiro na cabeça por seu ex-parceiro. O homem se matou em seguida. O caso teve início na zona Leste de Mogi Mirim e terminou na cidade vizinha.
O auxiliar de serviços gerais, de 26 anos, ainda tentou suicídio após matar a ex. Domingos tinha ferimentos no abdômen e foi socorrido consciente até a Santa Casa de Misericórdia local, onde passou por procedimento cirúrgico, permanecendo sob escolta policial na unidade. Procurado pela reportagem, o hospital não se manifestou sobre o quadro de saúde do paciente.
A ambulância do Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu) foi acionada até o bairro, mas a jovem já estava morta. Na delegacia, a autoridade policial determinou a prisão preventiva de Domingos por homicídio doloso, ou seja, quando há intenção de matar, e triplamente qualificado, uma vez que foi praticado por motivo fútil (ciúmes), usando de meio cruel (várias facadas) e sem a possibilidade de defesa da vítima.
“A prisão preventiva é dada a gravidade do caso e para garantir a ordem pública e como forma de atingir a Justiça”, concluiu o delegado Alexandre Leme da Silva, no registro da ocorrência. O carro do auxiliar, um Uno verde, que estava estacionado em frente à casa da jovem, precisou ser guinchado.
Revoltados com o crime, populares queriam apedrejar o veículo. Dávinny e Domingos viveram juntos por seis anos e desse relacionamento tiveram um filho. Há três meses, a mulher decidiu pela separação. O homem chegou a deixar a residência, mas não aceitava o fim do relacionamento.
O crime
Na noite do crime, Domingos chegou à residência e trancou o filho de 6 anos em um dos quartos do imóvel. Em seguida, ele atacou a ex-companheira, desferindo vários golpes de faca contra o corpo da jovem, e depois se esfaqueou. Ao chegar em casa, o irmão da vítima encontrou Dávinny e o auxiliar caídos no interior da casa e acionou o Samu e a Polícia Militar (PM). O tio arrombou a porta do quarto e retirou a criança do local. A faca foi recolhida por uma equipe da perícia da Polícia Científica. A jovem foi sepultada no Cemitério Jardim Santo Antônio, na tarde de segunda-feira. (Com informações de Karina de Araujo da Gazeta Guaçuana)
Entrevista
Segundo a delegada de polícia aposentada e secretária municipal de Segurança de Mogi Guaçu, Judite de Oliveira, embora ainda se fale em crimes passionais, esses casos não devem ser tratados dessa maneira. Atualmente, são classificados como homicídio qualificado, crime hediondo e, pela nova lei, denomina-se feminicídio. Nos últimos anos, especialmente em 2017, os índices de violência doméstica tiveram um aumento significativo em todo o território nacional.

“Hoje, a cada uma hora e meia, uma mulher perde a vida, simplesmente por ser mulher, no Brasil e no mundo. Em Mogi Guaçu, vejo com muita tristeza esses casos. A última vítima tinha apenas 23 anos de idade”, afirmou a secretária, em entrevista ao O POPULAR. Esse dado alarmante reflete a realidade do país, que tem a quinta maior taxa de feminicídio do mundo.
Judite já esteve na Secretaria da Segurança Pública (SSP) do Estado de São Paulo reivindicando uma delegada de polícia para ser titular da Delegacia de Defesa da Mulher (DDM) local. “Desde a minha aposentadoria, no ano de 2013, os colegas estão respondendo e acumulando suas funções”, reforçou. A delegada aposentada julga necessário ter uma titular que dê sequência às denúncias, conheça as vítimas e agressões e que possa avaliar quais os casos devem ter prioridade na tomada de medidas mais drásticas.
Para Judite, não adianta ter o boletim de ocorrência de ameaça, por exemplo, e a vítima sair ciente de que tem seis meses para manifestar o interesse em prosseguir com o processo. “Neste prazo, ela (a mulher) perde é sua vida e não o prazo para processar o sujeito”, explicou. Ainda de acordo com a secretária, as últimas vítimas da região tinham feito o boletim.
O fundamental é fazer cumprir a lei, com pedidos de medidas protetivas. “E se não cumprir na primeira vez, já solicitar a prisão preventiva”, acrescentou Judite. Contudo, muitas mulheres ainda têm medo de procurar uma delegacia, enquanto outras perdem a confiança na Justiça. Isso porque, conforme ressaltou a secretária, as medidas não têm valia se não for feito delas um instrumento para que indivíduo seja preso quando descumpri-la.
Quanto às políticas publicas engajadas na proteção da mulher, a delegada aposentada disse que elas existem, mas precisam ser colocadas em prática, além de se trabalhar também com a pessoa do agressor e dar valor para as denúncias das vítimas. “Acreditar que as ameaças podem ser concretizadas e tomar medidas rápidas, previstas nas leis”, concluiu.
Em Mogi Mirim, o Conselho Municipal da Condição Feminina, criado em 1992, ficou inativo por dez anos. Agora, já em atividade, está o Conselho Municipal dos Direitos da Mulher (CMDM). O órgão, composto por 14 integrantes, tem como presidente a vice-prefeita Lúcia Tenório e está vinculado à Secretaria de Assistência Social.
Mulher é assassinada com tiro na cabeça, no dia 14
Juliana Máximo da Silva, de 35 anos, foi assassinada com um tiro na cabeça pelo ex-companheiro, na noite do dia 14 de agosto. Cássio Henrique Pacheco, de 30 anos, se matou em seguida. O caso teve início na zona Leste de Mogi Mirim, quando Pacheco foi até uma residência onde Juliana estava com parentes, no bairro Sehac, e efetuou alguns disparos na rua. Em seguida, o ex colocou Juliana no Vectra que dirigia e, em determinado momento, atirou na mulher.
Durante perseguição policial, próximo ao bairro Igaçaba, enquanto tentava fugir, o veículo derrapou e ficou de frente para uma viatura da Polícia Militar (PM). Nesse momento, Pacheco disparou contra a própria cabeça. Ele chegou a ser socorrido, mas não resistiu aos ferimentos. Dias antes do crime, o ex foi acusado de agredir Juliana, que contava com uma medida protetiva.
Dados
Segundo dados do Atlas da Violência 2017, lançado recentemente, 4.621 mulheres foram assassinadas no Brasil, em 2015, o que corresponde a uma taxa de 4,5 mortes para cada 100 mil mulheres. A mortalidade de mulheres negras ainda observou um aumento de 22% no mesmo período, ficando acima da média nacional.
Em 2016, de acordo com a pesquisa “Visível e Invisível: a vitimização de mulheres no Brasil”, encomendada ao Datafolha pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública, com representatividade nacional, aferiu-se que 29% das mulheres brasileiras relataram ter sofrido algum tipo de violência, sendo que apenas 11% dessas vítimas procuraram uma delegacia da mulher. A pesquisa também apontou que em 43% dos casos a agressão mais grave foi no domicílio.
Em sua página no Facebook, o Coletivo Educacional de Mulheres: Maria Lacerda de Moura destaca que, entre março de 2016 e março desde ano, o país registrou ao menos oito casos de feminicídio por dia, conforme dados dos Ministérios Públicos dos Estados brasileiros. “Ao menos” porque em muitas situações, a ocorrência não é registrada na delegacia como feminicídio, mas sim como homicídio, entrando para as estatísticas gerais.
A dona de casa Dávinny Darini Alves foi assassinada na data seguinte ao Dia Internacional da Igualdade da Mulher. O 26 de agosto marca momentos importantes das mulheres na busca por condições de igualdade entre os gêneros como, por exemplo, na conquista de direitos na vida profissional e política.
Fundado dezembro de 2015, o Coletivo Educacional de Mulheres não é acadêmico, mas prático, e também não tem ligação com qualquer partido político. Os objetivos são a defesa dos direitos das mulheres e o engajamento em lutas por avanços relacionadas aos direitos, sendo aberto para a participação da população de Mogi Guaçu e Mogi Mirim.