sábado, novembro 23, 2024
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Rejeição, sinal vermelho dos governantes

Rejeição a um governante é coisa séria. Quando um gestor público tem contra ele uma avaliação muito negativa urge providenciar a ambulância para entrar na UTI da imagem. A rejeição é um fenômeno que deve ser convenientemente analisado. Trata-se de uma predisposição negativa que a pessoa adquire e conserva em relação a determinados perfis. Para compreendê-la melhor, há de se verificar a intensidade da rejeição dentro da consciência dos conjuntos sociais. O que diz a ciência?

O processo de conscientização leva em consideração um estado de vigília do córtex cerebral, comandado pelo centro regulador da base do cérebro e, ainda, a presença de um conjunto de lembranças (engramas) ligadas à sensibilidade e integradas à imagem do nosso corpo (imagem do EU), e lembranças perpetuamente evocadas por nossas sensações atuais. Ou seja, a equação aceitação/rejeição se fundamenta na reação emotiva de interesse/desinteresse, simpatia/antipatia. Pavlov se referia a isso como reflexo de orientação.

A rejeição tem uma intensidade que varia de político para político. Em São Paulo, Paulo Maluf, que sempre teve altos índices de rejeição, administra o fenômeno com muito esforço. Mudou comportamentos e atitudes. Tornou-se menos arrogante e mais humilde, apesar de não ter conseguido alterar a entonação de voz anasalada.

Os escândalos recentes e o lamaçal em que se afunda a esfera política também contribuem para atenuar a predisposição negativa contra ele, a ponto de purgar seus pecados pelos pecados mortais dos outros.

Certos perfis, mesmo não integrantes de grandes famílias políticas, passam a imagem de antipatia, seja pela arrogância pessoal, seja pelo estilo de fazer política ou pelo oportunismo que suas candidaturas sugerem. Em quase todas as regiões, há altos índices de rejeição a atores políticos, comprovando a tese de que os grupos sociais, incluindo as margens, agem com racionalidade e estão cada vez mais críticos.

Analisemos, agora, a rejeição à presidente Dilma. Primeira mulher a assumir o mais alto cargo da Nação, agregava as condições de grande popularidade. Surgiu no embalo do prestígio do carismático Luiz Inácio e do conceito de ética na política, que o PT encarnava há duas décadas. O escopo de assepsia representado pelo lulopetismo desmoronou com os escândalos do mensalão e, agora, do petrolão. O Partido dos Trabalhadores, a partir do seu guia, Luiz Inácio, se empenhou nos últimos anos em separar o Brasil em duas bandas: os pobres e os ricos, as elites brancas e os grupos periféricos, nós e eles.

O apartheid acirra os ânimos das duas alas. As classes médias tradicionais repudiam o escopo petista cravado no conflito de classes. No último pleito, o país se dividiu ao meio. E a animosidade se expande na esteira da crise econômica e da crise política.

A presidente Dilma possuía um perfil de gestora técnica. Que foi desconstruído.  As obras do PAC empacaram. Sua índole a afasta da esfera política. A nova classe média teme perder o que ganhou com a política de redistribuição do lulodilmismo. A carestia ameaça esvaziar o bolso das margens. E o inflamado discurso do PT e da CUT é lenha grande na fogueira.

No domingo, as ruas se encheram de milhares de pessoas com forte expressão de contrariedade. Não apenas agrupa os habitantes do centro da pirâmide. Conta com uma parcela (menor) das margens. E a razão é: a equação BO+BA+CO+CA (Bolso cheio, Barriga satisfeita, Coração agradecido, Cabeça decidida a apoiar o governante) já não se sustenta. E assim se explica a rejeição.

Pode ser revertida? Sim, a depender da economia, que é a locomotiva que puxa a vontade (boa, má) do povo.  Nesse momento, não adianta tergiversar. O discurso da presidente no Dia Internacional da Mulher foi um desastre.  Urge trabalhar com a verdade. Mudar posturas. A rejeição à Dilma começa com mudança de atitudes. Dela mesma.

Gaudêncio Torquato, jornalista, professor titular da USP é consultor político e de comunicação. Twitter: @gaudtorquato

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