Quando comecei a pensar no tema que iria abordar na coluna desta semana, confesso que alguns outros assuntos passaram pela minha cabeça. Não que tivessem a mesma importância, claro que não. Mas, depois de ver tantos colegas, jornalistas ou não, escrevendo de maneira brilhante sobre a vida e a carreira de Hugo Stort, alguns inclusive com forte laço de amizade com o craque, tive dúvidas se as minhas letras poderiam, de fato, acrescentar algo. Resolvi arriscar, já que o tom aqui é de reverência, de agradecimento e de respeito, como merecem aqueles que fizeram história representando a nossa cidade.
Não vi Huguinho jogar. Mas conheço parte da história do Sapão e tenho o prazer de conviver com pessoas que me contam com brilho nos olhos o que representou, em especial, a geração dos anos 1960 e 1970. Hugo era um jogador versátil, muito antes disso ser moda ou exigência. Nem tanto pelo aspecto tático, mas pelo domínio dos fundamentos.
Em uma época na qual se valorizava muito mais o bom jogador de fato do que o jogador eficiente. Quem sabe passar, chutar, se posicionar e tem inteligência para ler a partida, joga em qualquer posição. Isso ainda continua valendo no presente, embora raros se aproveitem. E era exatamente o que Hugo fazia com muita classe.
Um atleta não deixa legado só pelo que construiu dentro de campo. A trajetória fica muito mais rica quando acompanhada por uma conduta que, na boca de diversas vozes, não sofre arranhões. E estou convicto de que foi assim com Hugo. Mas, não foi só a passagem dele que deixou o já sofrido torcedor do Sapo triste nestes tempos tão difíceis para todos nós.
Se não me trai a memória, perdemos também, em menos de um ano, o técnico Oswaldo Alvarez, o Vadão, do Carrossel Caipira, e Pereira, zagueiro que defendeu o Mogi na primeira aparição na Segunda Divisão (antiga Intermediária) do Estado, em 1982.
Vadão foi indiscutivelmente o condutor na beira do campo do maior momento de projeção nacional do clube e talvez do município como um todo. Já se passaram quase 30 anos daqueles tempos inesquecíveis e ainda não houve, sem nenhum exagero, nada tão novo e revolucionário no futebol brasileiro quanto aquele carrossel. Pereira ficou por menos tempo e teve menos impacto, mas a sua geração, que contava também, entre outros, com Miltinho, Elson e Jorge Maravilha, tem seu lugar guardado.
A nós que continuamos por aqui, cresce o dever de reconhecer os ídolos e garantir que a história esteja sempre viva e sendo lembrada e contada para servir de exemplo e estímulo para as novas gerações. E ela só será contada sem ressalvas quando, independentemente do tamanho dos feitos, as máculas praticamente não existirem, como nesses casos. Não levantar dúvidas é um grande mérito desses. Porque, quando preciso, a história também conta os desacertos e eles nunca somem completamente, por maior que sejam as glórias.