Os Centros de Treinamento (CT) do Mogi Mirim, em Mogi Guaçu e na estrada de Limeira, foram transferidos ao presidente do clube, Rivaldo Ferreira, no segundo semestre de 2013. Rivaldo se tornou proprietário como parte do pagamento da dívida do clube com ele. Os documentos foram levantados por um torcedor e transmitidos à imprensa nesta semana.
A transferência do CT do Guaçu ocorreu em setembro de 2013, em cartório guaçuano. O valor foi de R$ 6.320.000,00, abatido na dívida do Mogi com Rivaldo. O terreno havia sido adquirido na gestão do presidente Wilson Barros, em 1996.
Em outubro de 2013, foi feita a transferência do CT da estrada de Limeira em cartório de Mogi, com abatimento de R$ 550 mil na dívida. O imóvel havia sido adquirido na Era Barros, em 1989. As escrituras já foram registradas, consolidando Rivaldo como novo proprietário e permitindo ao Mogi utilizar os CTs por um período de três anos.
O valor do CT de Mogi Guaçu teria motivado o revés na negociação em que Rivaldo deixaria o clube para Hélio Vasone Júnior, em 2013. Vasone estimava o CT em R$ 12 milhões e não aceitou que Rivaldo ficasse com o imóvel por aproximadamente R$ 6 milhões, como acabou acontecendo. Ao receber a avaliação, Vasone desistiu do negócio. A preocupação era que o Mogi ainda ficaria devendo a Rivaldo.
Segundo o ex-gerente de futebol do clube, Henrique Stort, há uma estimativa de que o CT valeria R$ 20 milhões.
A dívida antes dos CTs serem transferidos a Rivaldo estaria em R$ 12.560.000,00.
A assessoria de comunicação do Mogi informou que Rivaldo não irá se pronunciar e está cuidando da sobrevivência do clube em São Paulo. O dirigente está se reunindo com empresários em busca de parcerias para seguir no Mogi.
Ex-atleta se comprometeu a não reduzir patrimônio
A transferência dos CTs para Rivaldo feriu um compromisso assumido com a diretoria anterior do clube, no momento em que foi feita a passagem do comando da família Barros para o atual dirigente, em outubro de 2008.
Na ocasião, Rivaldo se comprometeu a manter o patrimônio e arcar com todas as despesas de manutenção do clube. Para assumir, pagou uma dívida de R$ 1,8 milhão referente a empréstimos feitos pela família Barros ao clube. A manutenção do patrimônio era exigência dos representantes de Barros para deixarem o clube nas mãos de Rivaldo.
Como não havia uma pena para o descumprimento do acordo, há um questionamento sobre a validade jurídica do documento, que o ex-vice-presidente e ex-presidente do Conselho Deliberativo do Mogi Mirim na Era Barros, Hélcio Luiz Adorno, o Luizinho, entende existir. “Não importa se tem valor jurídico, tem um pacto. O que é tratado é para ser cumprido, o que é contratado, para que é? Responsabilidade da assinatura”, destacou Luizinho, em entrevista coletiva concedida na quinta-feira, no Edifício Samambaia, ao lado do ex-vice-presidente do Conselho Deliberativo, João Queiroz, e do ex-gerente de futebol, Henrique Stort.
O documento foi assinado por Wilson Bonetti como procurador de Rivaldo, mas feito com base em uma entrevista do ex-jogador ao jornal O Impacto. Rivaldo disse que não apenas manteria o patrimônio como aumentaria. “O mais importante é o valor ético e moral”, alfinetou Stort.
Na visão de Luizinho, diante do acordo, o Mogi não deve a Rivaldo. “O Rivaldo deve ao próprio Rivaldo, ele que pague para ele mesmo. A responsabilidade do clube é dele, como vai cobrar do Mogi”, questionou.
Antes de morrer, Barros queria terceirizar futebol
Diante das dificuldades financeiras para tocar o futebol, após o fim do passe, e com a resistência da família em investir, o presidente Wilson Barros havia aceitado em 2008 terceirizar o futebol para uma empresa e desvinculá-lo da associação para preservar o patrimônio. A decisão foi tomada dias antes de morrer e revelada por Luizinho Adorno. “Esse projeto seria feito se o Wilson tivesse vivo, o futebol sairia do Mogi de qualquer maneira”, conta.
Diante do desejo de Barros, após seu falecimento, Luizinho conduziu a transição com esse modelo de gestão, oferecido a Rivaldo. Aproximadamente 10 grupos manifestaram interesse.
O estádio e os CTs seriam alugados à empresa responsável pelo futebol. A verba do aluguel serviria para pagar os funcionários da manutenção. O que mais chegou próximo de um acordo foi o grupo do empresário Olivério Júnior. Depois, Luizinho se reuniu com Rivaldo e seu procurador Wilson Bonetti. Em seguida, Rivaldo manifestou ao jornal O Impacto que queria assumir completamente o clube, o que não teria dito na reunião. Luizinho imaginava que Rivaldo, que era sócio da empresa CSR, assumiria o futebol e não entendia porque queria assumir completamente o clube, mas pela história do atleta, situação financeira e nome a zelar, entendeu ser a melhor opção em relação aos outros grupos e abriu mão de terceirizar o futebol. O principal motivo foi Rivaldo preservar o patrimônio e ainda arcar com as despesas. “A gente pensou: o Rivaldo caiu do céu, é outro Barros”, lembra Luizinho.
Ele recorda ainda que na gestão de Wilson, a Barros investia como patrocínio e, quando faltavam recursos, colocava um aporte como suplementação de publicidade. Apenas nos últimos tempos, com o dirigente doente e a família não querendo investir, foram feitos empréstimos, que totalizaram R$ 1,8 milhão, quitado por Rivaldo ao assumir.