No último capítulo de suas histórias no Boteco, o hoje jogador de rugby Rodrigo Cardoso, o Oliver, relembra a época de bandeirinha no futebol amador.
Boteco – Como você se tornou bandeirinha?
Oliver – Era uma época que a ACFAMM (Associação de Clubes do Futebol Amador de Mogi Mirim) tocava arbitragem, Amador, Rural, tudo. Quem me lançou foi o Paulo Bolinha (ex-presidente da ACFAMM). Eu já era mesário e teve uma prova que o pessoal do Sindicato dos Árbitros veio fazer, uma reciclagem. Passei em primeiro, nota máxima. Paulo Bolinha veio: “quer começar a bandeirar? Você foi o melhor”. Aí comecei, pegava Rural, Primeira, Segunda, Veteranos.
Boteco – Como bandeirinha, você era muito ofendido?
Oliver – Cara te joga copo de cerveja, fica te intimidando no alambrado, ameaça. Já fiz jogo na Vila Dias que tinha um cara armado na arquibancada. Acionamos Guarda Municipal, não aconteceu nada.
Boteco – Você se intimidava?
Oliver – Depois desse jogo que tinha o cara armado, eu parei de ir. Eu falei: “pô, isso é demais, não dá” (risos). Olha eu participei de muito jogo que teve agressão, já participei de briga para auxiliar o árbitro.
Boteco – Como foi?
Oliver – Você está ajudando árbitro, o cara vem, você senta bandeirada no cara. Foi num jogo no Tucurão, Tucura e Vila Dias, Veteranos. Saiu um quebra pau, os caras quiseram pegar o Daniel Ricci e eu tava auxiliando. Veteranos, pô, 40, 50 anos, quer bater em juiz? Aí eu tive que “brincar” com a bandeira. Rural, Amador mesmo, há muito desconhecimento de regra, o cara acha que você está errado, mas não conhece a regra, quer argumentar, é difícil.
Boteco – Por seu porte avantajado, você também intimidava?
Oliver – Ajudava, o pessoal tinha um pouco mais de respeito. Porque se o cara da arquibancada me xingava, eu não dava bola, mas nunca nenhum jogador me xingou e eu fiquei quieto. Sempre que eu era ofendido, eu ofendia. O cara fica batendo boca, vê que não vai dar nada, se ele está na ponta que eu estou, ia para outra.
Boteco – Como mesário alguma situação curiosa?
Oliver – Sempre tem o cara que está com uma carteirinha, mas não é ele e o time quer por. Eu sabia que não era e não deixava. Acho que era um dos mesários mais chatos.
Boteco – Teve alguma história boa com o Paulo Bolinha?
Oliver – Tinha um bandeirinha que dava cano nos jogos. Chegava na reunião: “eu estava doente”. Aí teve um dia que o Paulo Bolinha ficou de saco cheio. “Mas toda terça-feira você chega na reunião e fala que estava constipado, que domingo você não foi, então é melhor você parar”.
Boteco – Todo domingo doente?
Oliver – Acho que ele enchia a cara no sábado e não conseguia trabalhar no domingo. Uma vez na Aparecidinha, o árbitro começou a me queimar. Marquei impedimento, o árbitro não marcou nada, segundo impedimento, nada, parei de bandeirar, recolhi minha bandeira e saí fora. Ele: “Não, você não pode”. Ele botou o mesário para bandeirar. Eu fiquei fora, situação chata, a gente saía num carro só, ia fazia o jogo e voltava. E o dono do carro era o árbitro.
Boteco – Como voltou?
Oliver – Daquele jeito… Teve também um ano que a gente montou um time do Cecap na Copa Interbairros. Eu era zagueiro. Nunca comprei tanta lata de óleo na minha vida. Cada cartão que tomava, tinha que levar uma lata. Acho que como os árbitros me conheciam, a maioria adorava me dar amarelo, toda semana eu estava levando uma lata.
Boteco – Valeu, Oliver!