Argentina e Venezuela encontram-se imersas em profundas crises econômicas e políticas. A prestigiosa revista britânica “The Economist” já apontara algumas similaridades entre esses dois países que culminaram nessas crises. Seleciono aqui algumas das quais me parece notória a possibilidade de inclusão do Brasil como membro desse carrossel de maus hábitos.
1) Inflação: Argentina e Venezuela já possuem taxas de inflação com dois dígitos. O Brasil, no governo Dilma, tem sido perigosamente permissivo com uma inflação acima do centro da meta. Analistas vêm apontando que, em poucos meses, romperemos o teto;
2) Controle de preços: para combater a inflação, a Argentina usa o programa de “Preços Cuidados”. A Venezuela, um programa semelhante nomeado “Lei Orgânica de Preços Justos”. O Brasil, por sua vez, controla artificialmente alguns “preços-chave” que tem impacto na cadeia produtiva e de serviços tais como combustíveis, a energia elétrica e o transporte público. Especialistas garantem que é uma bomba relógio;
3) Risco país: Venezuela e Argentina são detentores de um dos maiores índices de risco país do mundo. O Brasil teve, recentemente, sua nota rebaixada por uma importante agência de classificação de risco, o que pode encarecer a captação de recursos externos;
4) Instabilidade: Cristina, Maduro e Dilma são herdeiros de líderes poderosos da América Latina como Néstor Kirchner, Hugo Chavez e Lula, mentores respectivamente do Kirchnerismo, do Chavismo e do Lulo-Petismo e que governaram seus países em períodos de bonança com altos preços de commodities que não se fazem mais presentes.
Nesses países, eleições presidenciais apontam no horizonte e ações governamentais populistas em detrimento de medidas que muitas vezes podem ser tão impopulares quanto imperativas estão na ordem do dia.
Não obstante, parece haver pouca preocupação por parte dos protagonistas em disfarçar que o mais importante é um projeto orquestrado e permanente de poder. Estão agarrados a ele há mais de uma década e fazem uso dos mais diversos artifícios para sua manutenção.
É bem verdade que não vivenciamos, no Brasil, a profunda crise atual desses nossos vizinhos. Com efeito, tais similaridades apontadas nos permitem pensar que seguimos pavimentando uma rota instável cujo ponto de chegada é sempre incerto e preocupante.
No que tange ao Lulo-Petismo, depois de aparelhar Petrobrás, Banco do Brasil, Caixa Econômica Federal entre outras, com propósitos nada republicanos de desvios de recursos para fins diversos, a mais recente e extremamente alarmante investida é a tentativa de ingerência do governo no IBGE, uma séria instituição brasileira que alcança os seus 143 anos. O mau humor do governo federal com os sérios e poucos vultosos resultados apurados das suas políticas culminou com a tentativa de interferência política no órgão, colocando em xeque sua autonomia técnica. O corpo técnico do IBGE reagiu e considerou a interferência “inaceitável”.
Vale lembrar que o governo argentino interferiu no INDEC (instituto de estatísticas daquele país equivalente ao nosso IBGE) quando a inflação incomodou politicamente por lá. A Argentina tem uma inflação que galopa dos atuais 30% para 40% e o governo argentino diz que esse índice é bem menor. Ninguém acredita e a instituição sangra com o descrédito.
O PT vem, não é de hoje, causando um estrago e minando a credibilidade de muitas das nossas instituições. Se, como nação, não entendermos isso a tempo e a ponto de poder reverter esse quadro, corremos o sério risco de perdermos grandes conquistas da sociedade brasileira, sobretudo a da estabilidade dos preços e de nos abraçarmos, mais uma vez, a esse infortúnio.
Sérgio A. David, Professor Doutor da Universidade de São Paulo – USP, Doutor em Eng. Mecânica – Unicamp – SP, Mestre em Eng. Mecânica – Unicamp – SP, MBA em Gestão Financeira (FGV-RJ/Ohio University -USA), Bacharel em Física (Unesp – RC- SP).