Mudam os jogadores, mudam os técnicos, mudam os nomes do estádio e, em menor escala, até mesmo a presidência. Mas o roupeiro do Mogi Mirim há décadas continua o mesmo: Wanderley Pereira, que ontem completou 40 anos de clube. O profissional é uma espécie de elo entre gerações, testemunha viva da história do Sapo. Chegou ao Mogi Mirim antes mesmo do presidente Wilson Fernandes de Barros, que presidiu o clube por mais de 25 anos, e viu a chegada de Rivaldo, hoje seu ídolo e patrão, sem acreditar que o franzino jogador pudesse ter futuro na profissão.
Funcionário mais antigo do Mogi, Wanderley encara o Sapo como um presente, pois começou no emprego um dia depois de seu aniversário. “Não é qualquer um que tem 40 anos num clube só”, celebra.
Em 24 de janeiro de 1974, Wanderley chegou ao Mogi para trabalhar como zelador, profissão desempenhada pelo pai por 14 anos na Itapirense. Atacante de times amadores de Itapira, onde nasceu, Wanderley chegou ao Mogi animado pela paixão pelo futebol. Sem muros e alambrados no estádio, acabava tendo a função de caseiro, cuidando até do gramado. Com poucos funcionários, a função de roupeiro também era desempenhada por ele. Com a chegada de Barros, na década de 80, mais profissionais foram contratados e Wanderley se fixou como roupeiro. No entanto, ainda fazia a faxina do vestiário, plantava grama e cuidava do gramado.
Sua lembrança mais especial não envolve o Carrossel e nem as recentes campanhas no Paulistão. “A maior lembrança que tenho foi quando o Mogi subiu para disputar a primeira divisão, em 85”, recorda Wanderley, que tem como um dos orgulhos ter trabalhado com Chicão.
Amigo dos jogadores, Wanderley comprova a tese de que os roupeiros sabem de tudo, mas sabe fingir desconhecimento para evitar fofoca. Para não deixar problemas chegarem à diretoria, quando pode usa a lábia e o carisma de quem é adorado pelos atletas para contornar situações.
Desespero
Além de conviver com diversos craques e técnicos, Wanderley acumula histórias, como a do dia em que esqueceu o uniforme em viagem a Indaiatuba para enfrentar o Primavera e quase foi demitido, despertando a ira de Barros. Para sua sorte, o Primavera emprestou um uniforme, evitando um W.O., e o Mogi ainda ganhou o jogo. Chorando, foi saudado pelos atletas. Naquele dia, não foi o treinador ou o presidente o escolhido a ser jogado para cima, mas sim o roupeiro. Aos 63 anos, ele nem cogita a possibilidade de deixar o amado Mogi, apesar de já ter se aposentado em 2011. “Enquanto Deus me der saúde, vou continuando”, avisa, já abrindo caminho para atingir meio século no clube que tem sua cara.