Não surtar é o novo anormal. Como se manter são em meio a este caos em que vivemos? A pandemia de Covid-19 é um marco irrevogável da nossa geração. Sem exageros, já que o número de mortes não para de crescer, ela será para nós o que foram as duas grandes guerras mundiais para quem viveu no início do século passado.
Nós também vivemos em batalha. Primeiro, contra um vírus. Um ser invisível e que é letal para muitos de nossos irmãos e irmãs. E muitos de nossos irmãos e irmãs seguem negando a gravidade da doença. O ponto que sempre “vamos e voltamos” é a politização do assunto. Como se todos eles não tivessem suas parcelas de culpa em tudo isso. Todos. Sem exceção!
Para agravar a situação por aqui, a pandemia veio exatamente em um dos momentos mais insanos da política nacional, com uma rivalidade exagerada entre filhos da mesma pátria, que se odeiam apenas por nutrirem crenças distintas. Cabe muita culpa, aqui, aos próprios agentes políticos. O presidente é só um exemplo. Esta constante gula dele por conflito abastece de pólvora pessoas, até então, do bem e do amor.
Mas e seus oponentes? O que fazem? Aceitam ativamente entrar no jogo de conflito, enquanto a prioridade deveria ser a conciliação. Isto vale para postulantes ao atual cargo de Jair Bolsonaro, mas também para gestores estaduais e municipais. E há ainda o estímulo ao confronto entre poderes, em um cenário instável e beligerante entre Executivo, Judiciário e Legislativo.
Todo este cenário gera suas consequências mórbidas. É pela nossa sede de brigar que mais pessoas estão morrendo. Isto é óbvio demais. Não adianta defender ou refutar, por exemplo, o chamado “tratamento precoce”, sem, antes de tudo, se posicionar a favor da busca por um consenso sobre este procedimento. Mas parece pedir demais quando, na maioria das vezes, as pessoas já estão propensas a tomar determinado partido, afinal, quem falou sobre isso ou aquilo, foi aquele político que ele ama ou o outro, que ele odeia. Não dá. Isso não dá.
Não podemos aceitar que este momento tão crítico de nossa história seja pautado por figuras que estão ali apenas e simplesmente para nos servir e nos conduzir de forma unida dentro de seus respectivos mandatos. Entre os danos de todo este caos está ainda a ampliação de uma crise financeira que já existia. E a culpa do agravamento é de quem? Caro leitor, é óbvio que, em primeiro lugar, ela é nossa.
Como sociedade egoísta e conflituosa. E nisto estão inclusos os políticos, que, por mais que os critiquemos com razão, são o reflexo do que o seu povo é. E a população brasileira, hoje é, em suma, isso aí. E não falamos aqui de forma individual. É o povo enquanto um todo, um grupo, uma sociedade, uma nação. Estamos mais fragmentados do que nunca. Apenas colocando a mão na consciência e buscando a conciliação como norte é que temos a chance de minimizar os óbvios estragos que uma pandemia traz.