Lembrado na quarta-feira, o Dia da Consciência Negra pode ter passado despercebido para muitos que apenas aproveitaram o feriado para se divertir, porém para tantos a data foi reflexiva, como deve ser, e serviu para notar as diferenças e o preconceito, apesar de saber que “todo brasileiro tem sangue crioulo”, como afirma Sandra de Sá, na canção Olhos Coloridos. Assim, na noite de quarta-feira, a fim de promover e valorizar a cultura negra presente no cotidiano do brasileiro, diversas manifestações culturais foram realizadas no Centro Cultural de Mogi Mirim.
Houve apresentações de dança afro, roda de samba, capoeira e maculelê, além da abertura da exposição de fotografias chamada “Um olhar para a consciência negra”, que reúne diversas imagens de fotógrafos profissionais e amadores e segue em exibição até meados de dezembro no espaço cultural.
A apresentação de capoeira foi a primeira a ser realizada e aconteceu com a participação do grupo Luanda, de Mogi Mirim. No entanto, o grupo não ficou só no jogo de capoeira, pois realizou diversas manifestações como, por exemplo, a apresentação de maculelê, que hoje é considerada uma dança tribal feita com bastões em punho, mas representa a preparação para uma luta africana, e também realizou o samba de roda.
“Os professores têm a obrigação de passar a cultura para as novas gerações. Faz parte da nossa história”, frisou o capoeirista do grupo Luanda, Vilson Ribeiro Rodrigues, que há 25 anos pratica o jogo e formou o professor do grupo, Luciano Jannuzzi.
Após a apresentação de capoeira e maculelê, a exposição foi aberta e os visitantes puderam conferir as imagens. Há fotos de todo o tipo para representar o povo africano e os afrodescendentes, como a festa do Senhor do Bonfim, realizada na Bahia, imagens com família formada somente por negros, idosos e capturas também feitas na África durante viagens de alguns expositores.
O publicitário Danilo Castro e o cabelereiro e maquiador Douglas Galvão também participaram da exposição, mas optaram por produzir suas imagens e para tanto convidaram como modelo a atriz Natália Valéria.
“Eu escolhi produzir para deixar a imagem com a minha cara, meu olhar. E o meu olhar é para tudo o que tem de mais bonito na cultura (afro), e foi isso que quis representar”, destacou Castro.
O publicitário disse que considera o dia da Consciência Negra uma data merecida e não enxerga, como muitos dizem por aí, como algo que reforça o preconceito e a separação entre as raças. “É uma gota no oceano”. Já Natália ressalta que a data é “um momento para resgatar as raízes do nosso povo, resgatar nossas origens e isso é muito mais importante que tentar minimizar a culpa (escravidão)”, disse.
Anna Sylvia Tavares Vieira, professora de dança afro do Centro Cultural há doze anos, também entende como reconhecimento, mas acha que ainda falta muito para que o preconceito seja banido. “É um grande reconhecimento, mais do que merecido, mas nem todo mundo pensa sobre o que está acontecendo, há muitas pessoas que não reconhecem a influencia dos negros, muitos leigos e outros que negam mesmo”.
No entanto, apesar de muitos negarem a influência do negro para a formação da cultura brasileira, outros participam ativamente das manifestações. As apresentações da dança afro foram exemplos, já que no palco do Centro Cultural afrodescendentes e brancos mostraram que o sangue do africano corre solto pelas veias e não há como negar.
Mogi Guaçu
No Centro Cultural da cidade diversas atividades também foram realizadas no último final de semana. Por lá, houve roda de samba, capoeira, homenagens, apresentação de hip hop e rap e até escola de samba. Na ocasião, também esteve presente a Miss Pérola Negra Tainá Abreu Cândido da Silva, eleita, escolhida na noite do sábado.
