A diferença entre o remédio e o veneno é a dose. Até aí, nada demais. Basta estar atento ao equilíbrio e pronto, sem riscos. Contudo a prática, minha gente, está é bem longe da simplicidade da teoria. A questão que vale um milhão de reais é como fazer isso inundada de sentimentos.
A Gabi está fazendo cursinho em São Paulo. Segundo ranking, é o que mais aprova em medicina no Brasil. Eu poderia ser só orgulho, já que estar lá é para poucos. Envolve dinheiro, logística… Mas não, muito mais do que isso, sinto muito sua ausência. E ela também. Chora quase diariamente…
A vontade que dá é mandar fazer a mala, largar tudo e voltar correndo. Isso ainda é especialmente potencializado para mim porque vejo que a vida pode acontecer de tantas formas. Será que estar no melhor lugar tecnicamente, mas de coração partido, faz mais sentido que estar confortável em outro lugar? Onde, sozinho, precise buscar aprimoramento do conteúdo? Trocando em miúdos, adianta ter uma Mercedes na garagem e medo de dirigir?
Além disso, pense nas pessoas de quem tem saudade. Tenho certeza que se lembrará de como elas te fizeram se sentir. Do amor, do acolhimento, da alegria, do momento que dividiram e não da profissão que exerciam… Elas podem, sim, serem referências profissionais, mas antes te tocaram como gente.
Mas, essa sou eu. Bárbara, 40 anos, construída por minhas experiências. Para a Gabi, viver o sonho de ser médica ainda é maior que tudo isso. Mesmo chorando, dentro dela sabe que ainda não é hora de desistir porque se fizer agora possivelmente carregue o peso do fracasso não só para a profissão, mas para a vida.
E todas as vezes que ela se descompassa, eu tranco a sete chaves essa vontade de colocar tudo que é dela no carro e trazer de volta. E sou bálsamo… É como se déssemos as mãos e fossemos transcorrendo um museu em que, em exposição, estão todos os porquês.
Não, nem mesmo os 18 anos de fidelidade em viver para educá-la tem o direito de interferir num sonho. Nem a dor da casa vazia. Do lugar a menos na mesa. Da falta de alguém para opinar sobre a minha roupa. Da fofoca do domingo cedo. Mesmo tendo motivos e possibilidade de manipulá-la, seria covardia se o fizesse. Pelo contrário, é por amor que a faço se recompor.
A verdade é que precisamos ter cuidado com nossa nocividade desde que nascem. Quem é que não tem vontade de deixar aquele pacotinho de fraldas bem no meio do casal na cama? Como é que dois adultos dormem juntos e um ser tão mísero e incapaz fica sozinho? O “porém” é que isso pode matá-lo.
Basta um sono profundo – natural pelo cansaço da fase – para o peso soterrar o bebê. Amor sem medida, infelizmente, prejudica. E segue assim durante a vida toda. Mas então, qual a medida entre deixar um filho ir para o mundo e fazer descobertas ou amarrá-lo perto de você? Não sei! Acho que ninguém sabe.