quinta-feira, novembro 21, 2024
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Seguimos em construção

Quando a Gabi nasceu o que eu mais tinha na vida era pressa e necessidade de mostrar para o mundo que “eu venci”. Queria poder me vangloriar na roda que ela dormia a noite inteira, queria vestir minhas calças jeans de antes de engravidar, queria a casa limpa, a roupa em dia e meu cabelo escovado cada vez que saísse de casa.

E não para aí. Quando deitava no final do dia sempre me cobrava que deveria ter lido “já que passava o dia inteiro em casa”. Também ficava pensando em como poderia me movimentar, como dar um jeito de fazer exercícios com uma criança pequena. Devia satisfação demais e olha que nem existiam redes sociais.

Dois anos depois chegou o Neto. Poderia dizer que aprendi, que não me importava com mais nada disso, que encontrei o verdadeiro significado e que todas essas necessidades eram bobagens, porém não foi. Continuei a mesma, só que com duas crianças pequenas.

Mas sabe, olhando hoje de outra forma vejo que não foi tão ruim quanto parece. De maneira alguma estou incentivando alguém a buscar a vida perfeita e menos ainda a viver de acordo com o que prega o mundo, mas, é muito positivo buscar ser o melhor de si, mesmo que de imediato a motivação tenha sido mais externa que interna.

Não posso afirmar se o ovo ou a galinha veio primeiro, mas o fato é que somos ótimos na hora de dormir. Gabi e Neto sempre gostaram do berço, só dormiam na minha cama quando precisavam de aconchego, no caso de uma febre ou machucado. A higiene do sono, tão famosinha agora, é comum a nós e arrisco afirmar que isso se desenhou graças aquela minha vontade de fazer bonito na rodinha.

E não para por aí. Não dizem que os filhos aprendem muito mais pelo exemplo do que pelas palavras? Ter a casa em ordem para mim está diretamente relacionada com ter a vida organizada. Se tem uma coisa que vai me derrubando é quando por falta de tempo passo uns dias na bagunça e sujeira. Acho que fui bem nessa missão, ainda que vez ou outra grave um áudio de descontrole no ‘Whats’ quando entro no quarto do Neto e não tenho espaço para abrir a porta do guarda-roupa. Como a base existe, rapidinho cada coisa encontra seu lugar.

Vejam bem, a intenção com este texto não é mostrar nosso “lado iluminado de família que atingiu o Nirvana”, de forma alguma, o que quero aqui é o oposto disso. Estamos tão acostumados a questionar o nosso passado, a nos envergonhar dele e tentar esconder embaixo do tapete que por vezes deixamos de perceber que a semente das nossas principais qualidades foi plantada ali.

Eu podia viver no remorso ou na vergonha de me importar com a opinião dos outros, mas, felizmente em tempo percebi que mesmo com a motivação torta, foi graças a essas escolhas que ao longo dos anos construi um lar onde identifico o que traz conforto e segurança para mim e que viver ali é peça chave para também gostar de quem sou.

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