domingo, setembro 15, 2024
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Sem amor, eu nada seria

Terapia deveria ser um direito adquirido por lei a todo cidadão. A primeira vez que percebi a necessidade foi em 2008. Como já contei aqui, sou filha de mãe solteira, não sou registrada e nem “conheço de vista” meu lado paterno. Isso sempre foi o comum, muito diferente da maioria dos amigos quando ainda era criança, mas nada que me trouxesse grandes dificuldades até meus filhos nascerem.

Nada, nada, nada no mundo é comparável à experiência da maternidade na minha vida. Quando a Gabi nasceu, ficava a admirando no bercinho do hospital, era inacreditável ver que haviam traços meus e traços do Alisson na mesma pessoa.

Logo depois veio o Neto, um bebê grudado, que me fazia sair correndo de tempo em tempo por conta das crises alérgicas. Sempre amei lavar cada dobrinha deles, cheirar aquele corpinho saindo do banho, pentear aquele cabelo ralo. Até hoje, poucas coisas me dão o sentimento de completude como ver nós quatro na mesma cama ou à mesa, falando sobre a vida.

Medida parecida tenho quando a casa está cheia de amigos. Aquela falação, garrafa de refrigerante para cá, cachorro passando para lá, pede para baixar a música, chama para comer. Também gosto das caronas. Buscar a molecada na escola é uma das partes mais divertidas do meu dia, como eles são vivos, criativos e nada machucados nem contaminados com o peso da vida.

E foi por tudo isso que pirei, porque de fato foi a primeira vez que me senti rejeitada. Foi muito maluco para mim pensar em como alguém é capaz de abrir mão de tudo isso já o tendo acontecido. Sei que, quando houve, eram novos, quase adolescentes, uma situação nada convencional. Mas, e depois? E mais tarde quando foi pai?

Entendam bem, não estou chorando as pitangas de jeito nenhum. Se tem algo que não faltou foi cuidado e referência paterna tanto do meu avô quanto do Plínio. Acho bizarro e sem sentido aquelas histórias do ‘Programa do Gugu’ de achar o familiar e ficar chorando copiosamente pela fala de alguém que nem existiu, que nem passou perto de ter afinidade. Só é impensável, no meu coração, deixar para trás.

Não acho que ter filho é uma obrigação. Não acho que um filho precisa de um irmão para não ser sozinho no mundo. Conheço um milhão deles que, depois de adulto, nem se falam. Ou pior, se odeiam.

Também não acho que é garantia de ter cuidados na velhice, na verdade, é até muito injusto cobrar esse peso. Mas, se há algo que tenho certeza, é que não existe, em nenhum outro lugar, a troca humana, a experiência e o sentimento em ser pai e mãe.

A gente se constrói, destrói e reconstrói quase que diariamente, para não dizer várias vezes ao dia. Aprende a fazer polvo de bexiga, a ser um pouco médico, burlar o sono e fazer o dinheiro render. Em troca de sorrisos faz brigadeiro, atravessa a cidade por um açaí e deixa almoçar pastel. E não há outro motivo que não seja o amor, aquele da entrega.

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