No último domingo, dia 30 de outubro, foi concluída uma das mais tensas corridas eleitorais da história do Brasil. Sobretudo no pleito pela presidência da República, ficou atestado que o país vive uma clara divisão. Os números provam isso. Afinal, Lula (PT) venceu com 50,86% dos votos válidos, contra 49,14% de Bolsonaro (PL), naquela que foi a menor margem de diferença desde a redemocratização, ou seja, desde a eleição de 1989.
Eleição concluída, é hora do país passar por uma transição inevitável. Afinal, o oponente à situação foi o vencedor do pleito e este não é um curso natural, por mais que seja amplamente democrático e possível. Esta foi a primeira vez na história que um candidato à reeleição para presidente perdeu. E, constitucionalmente, ele é obrigado a formar, em conjunto com o vencedor, um “governo de transição”. Como este processo se dará? É preciso acompanhar com atenção e sobriedade.
Também é importante destacar que, em seu primeiro pronunciamento após a vitória, Lula falou em governar para os 215 milhões de brasileiros e não apenas para os pouco mais de 60 milhões que nele votaram. Este é um fato óbvio, é obrigação constitucional do líder da nação trabalhar por todos nós. Porém, em contraposição a esta fala, o discurso do agora candidato derrotado à reeleição, Bolsonaro, em 2018, foi de que “as minorias deveriam se curvar às maiorias”.
Não é assim que deve funcionar. O Brasil que precisamos é o Brasil em que o governo eleito lute por cada um que votou em Bolsonaro. Por cada um que anulou o voto. Por cada um que votou em branco. Por cada um que não quis ou não pode votar. E por cada um que votou em Lula. É preciso um Brasil só. Sem divisão do ponto de vista do governante. O que não significa que todos devemos automaticamente defender o vencedor. Muito pelo contrário. É preciso cobrar sempre, sempre, sempre. Não podemos nos curvar aos governantes como ídolos intocáveis.
Enfim, o fim de uma eleição deve também ser marcada pelo respeito às diferenças. Nunca haverá unanimidade. O que é preciso diminuir é a quantidade de pessoas que se odeiam só porque o outro vota diferente dele. A quantidade de pessoas que julgam o divergente como um idiota, um burro, um canalha só porque vota diferente dele.
Até porque, por este raciocínio, sempre haverá quem te considera idiota, burro, canalha! Não. Não pode ser assim. As visões não só podem como devem ser diferentes exatamente para que os líderes escolhidos entendam que ele não pode seguir uma linha única de governo. É preciso cuidar de todos, dar oportunidade a todos. Sobretudo oportunidades iguais. Ou o mais perto disso, afinal, vivemos em um país que não nasceu no último 30 de outubro.
É um Brasil das consequências da morte dos indígenas, da distribuição de terras conforme os interesses de uma minoria dominante e que, sobretudo, escravizou a maior parcela da sua população por séculos, séculos e séculos. O Brasil que sempre foi dividido, precisa se unir cada vez mais. E este será o maior desafio de todos nós para os próximos anos. Respeitar as diferenças e lutar por um crescimento em conjunto, não solo.