Comandante da Pratik Karatê-Do, o Sensei Edson Francisco conta como conheceu o caratê, após ser um briguento de rua.
Boteco – Muitas histórias nas lutas de caratê?
Edson – Eu treino desde os 13 anos. Eu entrei no caratê porque eu era briguento. Brigava na rua, aí minha mãe me levou no psicólogo. O psicólogo falou: tem que descarregar energia. Minha mãe me colocou no caratê para ver se eu descarregava um pouco, só que eu via o pessoal treinando e não gostava. Eu achava briga de rua mais vantajoso.
Boteco – Mais divertido?
Edson – É, até coincidência, eu vi um japonês por muito tempo na igreja perto do Grêmio e começamos a reunir uma turminha, apareceu um japonês lá e eu chamei ele pra briga. Do nada. Chamei ele pra briga. Ele me ignorou, ignorou, ignorou, ignorou. Eu querendo brigar com ele.
Boteco – Mas você encanava assim?
Edson – Oh, encanava. A academia do Gilmar era no Grêmio. Minha mãe me matriculou e eu não sabia. Ela chegou com um kimono num domingo. “Tó: vai pro Grêmio”. “Fazer o quê?”. Aí fui, conversei com o Gilmar. Treinei neste domingo, beleza. Fui durante a semana. Neste meio de semana, eu fui na igreja e vi o japonês e encanei de novo. Aí chegou no domingo, entrei no vestiário. Saí. Aí o Gilmar chamou o pessoal. Formou aquela fila de faixa. Aí saiu do vestiário um preta, outro preta. Aí saiu um japonês, eu olho: caramba, parece que eu conheço esse cara. Aquele japonês de kimono, faixa preta. Até arrepia. Olhei bem: pô, não acredito. Ele olhou para minha cara e deu risada. Eu não sabia onde enfiar a cara. No fim, ele veio conversar comigo. Eu falei, pô, desculpa.
Boteco – Você ficou sem graça?
Edson – Eu fiquei muito, porque eu não esperava, ele era faixa preta, veio do Japão. Aí continuei a treinar, comecei a pegar gosto, ele me ensinava muito. Aí pegamos amizade.
Boteco – Aquilo mudou sua concepção?
Edson – Mudou tudo. Tudo. A minha vida mudou, totalmente. Depois viciei mesmo, falo que o melhor vício que eu tenho foi o caratê. Eu tô com 56 anos. Comecei a treinar com 13. Aí minha família entrou no caratê, como você acompanhou, então o caratê pra mim trouxe muita coisa boa.
Boteco – E você parou de brigar porque o que o psicólogo falou que precisava soltar energia, você soltava no caratê?
Edson – Foi, o caratê. Eu descarregava todas as energias lá, depois, você sai mais tranquilo. Porque eu era briguento mesmo, estudei no Monsenhor Nora, Coronel Venâncio e Rodrigues Alves. Onde eu mais briguei foi no Coronel, brigava na hora da saída. E no outro dia, não ia na escola porque sabia que ia levar suspensão. A gente saía, ia para escola, não ia, ia nadar no rio do Mirante. A gente já levava um shorts escondido na bolsa, um dia ela (mãe) pegou a gente. A gente nadando, ela passou em cima da ponte e viu eu e o Guilherme. Corremos para a casa da minha tia. Chegando lá, ela já estava lá, com uma bacia, a água branca de sal. E não sei se você já ouviu falar de vara de marmelo, espada de São Jorge, ela desceu a lenha em nós e mandava entrar depois, um jogava a água no outro de canecão. Jogava a água, aquele vergão ardia. Valeu? Bastante porque isso foi dando disciplina para a gente.
Boteco – E depois que adquire as técnicas do caratê, não dá uma tentação de querer brigar para usar a técnica?
Edson – Muitos falam, eu não. Não. O caratê, o que eu passo na minha academia é disciplina, o cara ser homem, com personalidade. Ele impõe a disciplina.
Boteco – Edson volta para abordar histórias curiosas de viagens em competições de caratê.