Brinquei outro dia em postagem no facebook que prevejo não termos, doravante, verões menos tórridos do que este que estamos vivendo. Minha suspeição se apóia no fato de que estamos vivendo, ano a ano, comportamentos diferentes do clima.
É uma rematada besteira, mas me parece que a natureza também resolveu, como o homem, fazer novas experiências, caminhar por outros caminhos, avançar em direção ao desconhecido. É como se ela, que muitos chamam de mãe, pudesse exprimir humores como nós, carnais. É como se ela pudesse torcer por um time e, em reação a uma derrota, decidisse disparar raios em direção ao adversário.
Como tudo está mudando, não é de hoje, sem a mínima possibilidade de volta, a natureza também decidiu abandonar sua máquina de escrever, trocando-a por moderníssimos computadores. Teria ela, nessa linha de teorização, nos imitado. Deve estar lá com o seu smartphone, teclando nervosamente no whatsapp. Moderninha.
Ora, nessa ordem de conjecturas, teria ela decidido que verões com brisa refrescando o rosto e chuvas calmas é coisa do passado. É coisa antiga. Não nos pertence mais. É tempo de novos tempos – imagino a natureza pensando assim com seus botões no recôndito de sua morada.
Então, está feito. A partir do atual, os verões serão sempre de queimar até as entranhas do nosso outrora vigoroso e intrépido corpo humano. Claro que isso não é apenas o reflexo do espírito modernoso adquirido pela natureza. Ela tem o direito de não permanecer estagnada, retrógrada, antiquada. Mas, em parte também é movida por uma lei escrita pelo homem, segundo a qual a toda ação compreende uma reação.
Ora, sabido é que a nossa ação relativamente à natureza tem sido crescentemente de grande intensidade e brutal irresponsabilidade. O machado e a motosserra têm sido impiedosos. A fumaça e toda sorte de resíduos malévolos que o homem produz no afã do enriquecimento exercem ação destruidora. Se o corpo humano reage aos maus tratos a que é submetido, fragilizando-se, não seria diferente o que aconteceria, portanto, com a natureza.
Então, aqui alinhavo um último argumento para sustentar minha tese de que nossos futuros verões serão infernais. Simples assim: o homem não vai melhorar. Continuará cutucando o diabo com vara curta. Sobre isso, creio não ser necessário dizer mais.
Para por fim a essa perda de tempo a que me lancei hoje, concluo que estaremos inevitavelmente obrigados, ano a ano, a nos adaptarmos ao clima sob o qual viveremos. Mesmo porque, como suspeito, não haverá retorno. E digo mais. Tomara que a mãe não resolva achar que é pouco e decida girar para a direita o botão do regulador de temperatura do globo. Tomara que não.
Agora, em tudo há sempre uma compensação, uma contrapartida, um prêmio. Tempo quente sugere alguma coisa. Aliás, sugere muitas coisas. Não que seja o meu caso, mas não faltarão aqueles que, nesses tempos caniculosos, abençoarão o alemão que inventou a cerveja. Aliás, não sei como ninguém pensou, até hoje, em criar um monumento em homenagem a esse alemão desconhecido.
Valter Abrucez é jornalista autodidata. Ocupa, atualmente, o cargo de Secretário de Comunicação Social na Prefeitura de Mogi Guaçu e escreve aos sábados em O POPULAR