sexta-feira, outubro 18, 2024

Sofá de casa

Dia desses estava dando um “cata” na bagunça da sala e fiquei analisando meu sofá. Ele é tudo que uma decoração moderna não recomenda hoje: tecido macio e retrátil. A questão é que eu não o trocaria por nenhum outro porque são exatamente essas características que garantem bons momentos.

Se não tivesse este formato, certamente não caberia nós quatro, cinco com o Pedro, seis com o Reginaldo, tá bom vai… sete com a Catarina! É por escolha. Há dois anos reformamos a casa com a ajuda de uma designer e sim, é muito, muito, muito bom ter uma visão profissional. Ver aquele espaço cansadinho ganhar uma roupa nova.

Como num passe de mágica, desenhado em 3D numa tela, você passa a ter uma sala de novela. Porém, ter uma base com alguém tecnicamente preparado não é só indispensável e sensacional, mas também arriscado.

Isso porque não podemos perder de vista que quem viverá ali, quem deixará horas deste curto limiar chamado vida, somos nós. Por isso, muito mais que agradar quem vê, tem que ser bom para quem vive. Muito mais que bonita na tela, sua casa precisa ser um lugar que cabe e serve você.

Nós, por exemplo, somos do grupo que gosta de farra ao mesmo tempo que tem preguiça. Não rola ter um espaço para viver e outro para receber, tem que estar tudo sempre à mão. E graças a essa característica, tudo que é nosso é usado. Não existe prato, copo, travessa, cadeira… nada de visita. Chegou tá lá.

Além de prática, essa é a nossa forma de demonstrar afeto. Aquele espaço de intimidade é tão íntimo que queremos que a pessoa sinta que é especial e por isso a deixamos entrar. É como se dar acesso a casa estivéssemos dando ao coração. E jamais conseguiríamos agir assim se estivéssemos distantes dos nossos valores, se usualmente nossas escolhas não fossem alinhadas.

Isso passa também pelas roupas. Muito mais do que na moda elas devem transmitir quem é você, devem abrigar uma alma “à la volonté”. Adoro ficar vendo composições, estilos, corte de cabelo, que cor combinar com qual. E foi em um desses momentos bobeiras que ouvi de uma estilista o quanto somos condicionados, o quanto essa história de “agora só calça justa”, “a vez da cintura alta” na verdade não passa de uma massa de manobra para que estejamos sempre correndo atrás do fio do balão.

E veja, mesmo sendo conscientes, ordenados, bobeou a gente cai, seja na compra de uma cadeira incômoda ou na de um salto que será usado uma vez só. Duvido que você que me lê nunca ficou irritado por estar largado, sem nenhuma expectativa para aquele domingo de sol, enquanto passava o dedo pela tela do celular e via todo mundo tendo um dia incrível no Instagram. Eu já e não foi uma vez só não.

Demanda muita energia preservar quem nós somos e as coisas que fazem sentido para nós. Parece bobagem, mas se vacilarmos, estamos sentados em um sofá que dá dor nas costas ou temos um tapete que não foi feito para pisar, apesar de lindos. Mais grave ainda é que seremos eternamente frustrados porque a mim soa impossível seguir todas as tendências que nos vendem como passagem para estar inseridos socialmente.

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