O funcionalismo público há muito tempo é cercado por fama envolvendo pouco interesse no trabalho, como se os funcionários de administrações municipais recebessem em troca de uma atuação de qualidade e determinação questionáveis. Piadas referentes a funcionários públicos se tornaram comum no imaginário popular.
Este preconceito relacionado à fama indubitavelmente é injusto com profissionais sérios e capacitados. Como todo preconceito, carrega uma vertente viciada e negativa em que se toma como verdade um conceito antes de uma análise individualizada e aprofundada de cada profissional.
No entanto, é preciso reconhecer que a fama, embora possa ser injusta no panorama amplo e geral, tem seus motivos para existir, fruto muitas vezes da irresponsabilidade de governantes no intuito de tornar o Poder Público um cabide de empregos para atender a interesses políticos e pessoais, empregando funcionários cujas funções na verdade parecem muitas vezes de fachada ou no mínimo são desenvolvidas com desleixo. Essa desconfiança existe especialmente quando se trata de funcionários comissionados, que alcançaram o direito de receber uma verba pública por cargos de confiança, sem que o mérito tenha sido conquistado em uma concorrência em pés de igualdade com os demais em concursos públicos.
Algumas atitudes do Poder Público colaboram para denegrir a imagem do funcionalismo. Em Mogi Mirim, o prefeito Gustavo Stupp cometeu mais um de seus erros de uma gestão desastrada ao instituir um “folgão” de cinco dias para os funcionários públicos. O “presente” começa amanhã com o feriado de 22 de Outubro, segue na sexta-feira e vira a semana, continuando na segunda-feira, dia 26. Isso porque houve a antecipação do feriado do funcionário público, celebrado no dia 28. Cinco dias, um período maior do que o de Carnavais curtos, que vão de sábado a terça-feira. O folgão dado por Stupp pode ser comparado a uma folia fora de época.
Se não bastasse, o folgão chega em um momento em que a Prefeitura tem o expediente reduzido para até as 14h diante de uma crise financeira. O discurso de que os funcionários teriam que trabalhar de forma redobrada, até em função da exoneração de diversos profissionais, parece não ter efeito na prática ao se abrir mão do trabalho de sexta-feira. Outro detalhe é que na Câmara a antecipação acabou cancelando a sessão de segunda-feira. Desta forma o mês de outubro ficou apenas com dois dias de sessões de quatro possíveis.
A “folia” fora de época em plena época de expediente reduzido não combina com o momento de crise enfrentado, quando arregaçar as mangas e trabalhar com afinco seria uma opção mais adequada, até em respeito aos munícipes. Nesse cenário, a impressão é que trabalhar parece ter deixado de ser algo importante na esfera pública ou ter se tornado pecado. A culpa não é dos funcionários, que só veem a fama descer ladeira abaixo, mas sim do governo responsável pelo absurdo folgão.