quinta-feira, novembro 21, 2024
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Treino é treino e jogo é jogo

Sempre me achei daquelas que não apostam em fórmulas prontas, que respeita a escolha do amiguinho por mais diferente que ela possa ser. Sabe aquela pessoa descolada, que tira tudo de letra…daquelas que tropeça e já sai andando como se nada tivesse acontecido? Então, tipo assim.

A verdade, minha gente é que na grande maioria das vezes sou bem diferente do que imagino ser. E isso não tem a ver com não se conhecer ou ter duas caras, acontece apenas porque gastamos muito mais tempo no campo da imaginação do que na prática. Pensamos saber como lidar com as coisas por já ter pensado sobre ela, ter estudado, ter esgotado o assunto imaginando “n” possibilidades, mas a verdade é que treino é treino e jogo é jogo.

É assim quando casamos. A gente acha que como já sabe arcar com as responsabilidades da vida, está pronta. Pensa que porque sabe lavar, passar, cozinhar ou, ao menos, delegar, já é capaz de assumir uma casa. Tecnicamente sim. A grande questão é que as pessoas envolvidas são compostas de sentimentos e isso muda tudo.

A espera do filho não é diferente. Sei lá de onde vem aquela vontade arrebatadora e um frio na barriga que se pudesse ser sonorizado certamente diria “chegou a hora”. A gente não pode ver uma grávida na rua que o olho brilha.

Mulher com criança no colo então, “senhor, que coisa mais linda, nunca ví nada assim antes”. Basta ter o exame positivado nas mãos que compra todos os livros e já se matricula naquelas aulas que ensinam desde banho a pega da mamada.

Lindo né? Parece que dá para tirar de letra com tanta informação assim! Mas não dá! Não dá porque seu corpo vira uma bagunça de hormônios, porque não tem mais hora para comer, para dormir. Por algum tempo acha que nunca mais sua barriga vai murchar e que nunca mais será possível conversar com amigos de outros assuntos que não seja fraldas, arroto e medo de afogar. E tudo isso minha gente, faz o sonho torna-se pesadelo porque para o sentir não existe razão.

Quantas vezes disse por aqui o quanto a gente precisa continuar se enxergando como indivíduo para que possamos saber como conviver conosco e com o marido quando os filhos baterem asas? Pois bem, por mais preparada que achei que estivesse, ainda estou tijolo a tijolo escalando o fundo do poço.

Gabi foi morar fora, o que era totalmente esperado dada a fase da vida pela qual ela está passando. O que falhou foi a forma como isso aconteceu que fugiu de todas as cenas que minha mente ansiosa foi capaz de desenhar. Some-se a isso a orfandade pela perda da minha vó.

Reuni o arsenal de racionalidade acumulado nesses 40 anos de vida, revisei eles na expectativa de estancar rapidamente toda dor. Não deu! E no meio de tudo isso, a única certeza que tenho hoje é a de que sentimento não é matéria exata e tem vida própria. Por mais que treine, não se sabe como será a hora que o apito do jogo tocar.

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